A nova peça-filme de Regina Miranda, interpretada por Lígia Tourinho, atravessa os territórios mais secretos e intensos de Patrícia Galvão — escritora, jornalista, tradutora, dramaturga e a lendária “Pagu”, musa inquieta do Modernismo brasileiro. Longe de uma biografia linear, a obra se aproxima de um diário de sobrevivência, onde emergem os estados-limite que marcaram sua vida e pensamento.

Fragmentos de desenhos, manuscritos, escritos autobiográficos e prisionais da autora foram deslocados, invertidos, tensionados e reescritos em partituras corporais que carregam a marca do teatro coreográfico de Regina Miranda. Sobre eles, o cinema irrompe como elemento estruturante: não mero suporte, mas força criadora que amplia a cena e a transforma em território híbrido.

Desde 2019, Miranda vem explorando a fusão entre palco e tela em obras como Naitsu (2020), em parceria visual com Cavi Borges e atuação de Marina Salomon, em Rever… apesar de tudo (2023), com Patrícia Niedermeier e em “Rastros e Retornos”(2025), em parceria com Marina Salomon. Em Pedra Pagu (2025), média-metragem de 30 minutos, esse diálogo se radicaliza: palco e tela se espelham, trocam memórias e desejos, embaralham hierarquias e produzem novas narrativas de si.

Na cena, Lígia Tourinho encarna a mulher radical e apaixonada que ousou viver segundo seus ideais, lutar por justiça social e afirmar o corpo como território do desejo, mesmo à custa de prisões, isolamento e tortura. Pagu escreveu sobre tudo isso — em jornais, peças, memórias e poemas — mas por décadas permaneceu silenciada. Pedra Pagu devolve sua voz ao presente em um gesto de reinvenção e resistência.

PEDRA PAGU teve sua pré-estreia na Mostra Mulheres em Cena Gira, organizada pela Cia Fragmento, ainda sob o título Pedras Soltas. Desde então, percorreu palcos no Rio de Janeiro — Teatro Angel Vianna, no Centro Coreográfico da Cidade — e em São Paulo, no SESC Santo Amaro. Em março de 2025, atravessou fronteiras e foi apresentada na Mostra Internacional Mujeres en el Arte, no Teatro Guillermina Bravo, na Cidade do México. O sucesso da participação levou a uma curta temporada no mesmo teatro, em maio, a convite da Coordenação Nacional de Dança do México.