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Trilhas da Cena

5 MINUTOS

Inclassificáveis (SC)

Direção e dramaturgia: Marília Carbonari

Atuação: Leandro Batz

Estreia: 2014

Atualizada em 04/04/2025

Foto: Giulia Martins

Sinopse

Um homem preso há 50 anos. Manuel. Operário. Poderia ser Manoel Fiel Filho, militante de base do PCB morto pela ditadura brasileira. Ou outro Manuel, chileno, personagem ficcional da canção de Victor Jara, Te recuerdo Amanda, sobre o amor de Amanda e Manuel. O preso registra os dias e tenta se lembrar do que passou. É atravessado por suas memórias, nossa história desconhecida. Uma voz que busca ser ouvida e repercute nas ruas ainda hoje.

O espetáculo

Presenças negras no combate às ditaduras latino-americanas

O Coletivo Inclassificáveis é formado por uma geração de jovens artistas-pesquisadores com base em Florianópolis, vinculados à herança do teatro de grupo e seus modos de produção, ecoando a trajetória de outros coletivos de teatro espalhados pelo Brasil. O grupo se constituiu com a montagem do espetáculo 5 minutos em 2014. Desde então, tem desenvolvido pesquisas e ações artísticas envolvendo memória e história.

 

Com direção e dramaturgia de Marília Carbonari, 5 minutos é um monólogo tecido coletivamente a partir da canção Te Recuerdo Amanda de 1968, de autoria do professor, diretor teatral, cantor e compositor chileno Victor Jara, assassinado pelo regime de Augusto Pinochet, cinco dias após a derrubada de Salvador Allende. A composição de Jara se tornou símbolo de resistência e esperança para aqueles e aquelas que buscam ideais de justiça e liberdade na América Latina.

 

No espetáculo, são expostas as articulações do poder autoritário ditatorial na experiência de dois personagens que se chamam Manuel (nome do pai do cantor Víctor Jara), dois operários comprometidos com a sociedade a que pertencem. Há o Manuel chileno e o Manuel  brasileiro; ambos são vítimas da violência antidemocrática imposta em seus países de origem.

 

Em 5 minutos, os idiomas português e espanhol se apresentam irmanados e, juntos, compartilham a cena. As diferenças linguísticas e culturais cedem lugar às semelhanças e às urgências comuns. A montagem narra histórias complexas e interdependentes, que envolvem Brasil e Chile ao mesmo tempo. São abordados temas como repressão política, luta de classes e o amor entre dois operários – Amanda e Manuel, representantes da categoria “chão de fábrica”. Amanda é a referência de afeto e força que povoa a mente dos personagens homônimos

Nas décadas de 1960 e 1970, o Brasil vivia um momento de consolidação dos monopólios econômicos – em sua maioria, simpáticos à ditadura –, enquanto, paralelamente, crescia dentro das fábricas e indústrias a tensão entre patrões e empregados. Nesse contexto, trabalhadores e trabalhadoras eram explorados, e tornava-se urgente a organização de classe, as reivindicações trabalhistas e as ações grevistas. Essas iniciativas, ainda no início do movimento sindical, colocaram seus representantes na lista de perseguidos pelo regime militar. A maioria desses líderes era composta por pessoas negras.

 

É fundamental que a sociedade brasileira supere a invisibilização sistêmica que oculta tanto o protagonismo da comunidade negra nos movimentos contra a ditadura militar quanto o enfrentamento de mulheres e homens ao racismo estrutural, que pautou as ações do regime.

 

O monólogo 5 minutos é interpretado pelo ator Leandro Batz, cuja presença negra acrescenta uma camada significativa ao trabalho desenvolvido pelo Coletivo Inclassificáveis de Santa Catarina. O discurso antiditatorial e a denúncia da violência de Estado, quando proferidos em cena por um corpo negro, reeditam o imaginário coletivo, que historicamente exclui esses corpos das narrativas históricas oficiais (e ficcionais) sobre a participação política na conquista da democracia no país.

 

A presença do corpo negro na cena teatral sulista na cidade de Florianópolis e a inserção deste corpo no contexto dos enfrentamentos ao autoritarismo militar latino-americano instauram um espaço de ampliação da memória e das subjetividades que permeiam nossa história de resistência aos regimes antidemocráticos no país.


Sueli Araujo
e pesquisadora e curadora do projeto O teatro e a democracia brasileira.

Vídeos

Teaser do espetáculo

Conteúdo restrito

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Espetáculo na íntegra

Galeria de fotos

Fotografias de Rodrigo Sambaqui, Giulia Martins e Rafael Coelho.
Crédito nas fotos. Clique para ampliá-las

ficha técnica

criação coletiva INCLASSIFICÁVEIS

atuação: Leandro Batz
direção e dramaturgia: Marília Carbonari
assistência de direção e dramaturgia: Lia Urbini
cenário e figurino: Fátima Lima
Produção: Ranieri Souza

clipping

O livro (dramaturgia)

5 minutos

Marília Corbonari

Beto, vem aqui, puta que pariu, Beto, o Andrea, aquele filho da puta, fudeu comigo, fui trabalhar no escritório, ele me prometeu pagar mais, ralei que nem um condenado, e o filho da puta me mandou de volta pro chão de fábrica. Ele me usou, ladrão filho da puta, aquela comissão era minha. Eu vou pro piquete com vocês. Fala pra Neide avisar a Amanda… (Silencia e se abaixa como se alguém tivesse entrado, espera e continua.)

Editora Urutau
Páginas: 40 páginas
Ano de edição: 2023
https://editoraurutau.com/titulo/5-minutos

Coletivo Inclassificáveis

O coletivo Inclassificáveis iniciou seus trabalhos oficialmente com a atuação de Leandro Batz na peça 5 minutos escrita e dirigida por Marília Carbonari, em 2015. A pesquisa da dialética memória/história na cena teatral que deu origem à peça, resultou em exercícios de criação que foram sistematizados para fins didáticos e oferecidos em oficinas para iniciantes e profissionais do teatro. Em 2017 e 2018, a peça e a oficina percorreram Argentina, Uruguai, México e Cuba. Em 2019, em Florianópolis, o coletivo se apresentou em festivais, desenvolvendo o projeto 5 minutos nas comunidades. Em 2023, estreou a peça Fluxo com Hedra Rockenbach na projeção e luz, Pádua Moreira na direção musical e novos integrantes no elenco. O resultado das mais de 100 apresentações da peça 5 minutos, das diversas turmas de oficinas e da mostra Inclassificáveis em cena com a peça Fluxo em 2023, o coletivo completa 8 anos de existência e resistência no estado de Santa Catarina.

 

Site: https://www.inclassificaveis.org

Esta é a página de um espetáculo selecionado no âmbito do projeto O teatro e a democracia brasileira. A atualização dos seus dados, bem como as informações nela contidas são de responsabilidade da Foco in Cena, proponente deste projeto. Caso encontre um erro ou divergência de dados, favor entrar em contato através do e-mail contato@focoincena.com.br

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