Coro dos que dão as costas é um espetáculo que propõe uma experiência teatral radical, desafiando o papel tradicional do espectador e subvertendo o desejo de ver, identificar e controlar quem está em cena. Um grupo de atrizes e atores está sobre o palco, mas não vemos seus rostos – eles se recusam a ficar de frente para nós, ou são impedidos de fazê-lo por alguma força desconhecida.

Se o teatro é a arte do encontro, o que significa esse gesto? Como seguir com a peça se não podemos ficar cara a cara? Será que dar as costas é uma forma de desdém ou um convite? Ao se recusar a ser plenamente decifrado, o espetáculo convida o público a uma vivência sensorial e coletiva, profundamente inquietante e provocadora.

Com dramaturgia de Artur Kon e direção coletiva, a montagem segue em um fluxo de palavras, sons e movimentos. Construída sem pontos finais e sem uma narrativa linear, a peça é guiada por vozes, movimentos e sensações, evocando a força coletiva de um coro.

Dando continuidade às investigações iniciadas em “Coro dos solitários, ou Sonhamos ser Robinson Crusoé”, a nova criação da companhia mergulha em mais um desafio: é como se uma regra — imposta ou escolhida — obrigasse os atores a manter-se de costas. Um gesto que, em vez de romper o teatro, talvez o reinscreva sob novas formas de presença e escuta.

Neste trabalho, os integrantes da Cia Acidental se afastam da atuação para ocupar exclusivamente a direção, convidando um grupo de artistas criadores. A orientação artística é da diretora e pesquisadora Janaína Leite.