Velocidade, décimo espetáculo do grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum, surge como um manifesto poético e onírico contra a pressa e a velocidade da vida contemporânea. A peça questiona: e se fosse possível desacelerar o tempo ou criar uma máquina de intervir no tempo?

Estruturada em forma de livro – com capa, prefácio, dedicatória, sete capítulos e verso da capa – a montagem abandona a linearidade e se constrói por imagens, rastros de memória e lapsos entre o real e o imaginado. Cada cena convida o público a suspender a lógica do imediato e experimentar outras durações, ruídos e silêncios.

A dramaturgia, inspirada no ensaio “Notas sobre os doentes de velocidade”, da autora mexicana Vivian Abenshushan, dialoga com obras como “Oráculo da Noite”, de Sidarta Ribeiro, textos de Paul Preciado e o filme “Poesia Sem Fim”, de Jodorowsky. O resultado é uma peça-livro-sonho que propõe outra relação com o tempo e o repensar sobre a efemeridade da vida.

O espetáculo começa com um áudio de seis minutos que o espectador ouve no escuro, como convite inicial para desacelerar. A trilha sonora original de Barulhista e a iluminação de Marina Arthuzzi reforçam o caráter sensorial da encenação. Uma mesa central funciona como página, onde os títulos dos quadros são escritos e apresentados ao público.

Em um dos capítulos, intitulado “Queda Livre”, cinco bonecos de madeira representam versões miniaturizadas dos próprios atores e os entrevistam em um talk-show absurdo, criando o efeito de ver os atores como avatares e objetos ficcionalizados.