A CASA DO GIRASSOL VERMELHO
da obra de Murilo Rubião
Cia. Sonho e Drama (MG)
Direção: Cida Falabella
Estreia: 1991
Atualizada em 18/02/2025
Espetáculo baseado nos contos de Murilo Rubião.
Desde o início, ficou claro que existiam dois caminhos para trazer ao palco os contos fantásticos de Murilo Rubião: o truque e a sugestão.
O truque poderia ser definido como tudo que depende de meios artificiais para criar efeitos. Esse seria o caminho do cinema ou vídeo, que podem fazer aparecer e desaparecer coisas e pessoas, distorcer imagens, sobrepô-las.
O teatro no qual acreditamos não utiliza esses recursos, mesmo por que não há meios para fazê-lo bem feito. Optamos pela sugestão, buscando recriar o clima que percorre toda a obra de Murilo Rubião, envolvendo e revelando uma nova realidade mais profunda e assustadora. Esse caminho exigiu de todo o grupo um desnudar-se constante, revelando os nossos fantasmas, os desejos, as frustrações inerentes ao homem numa sociedade fragmentada e castradora. Pra nós, enquanto o trabalho se desenvolvia, mais claro ficava que o teatro é o templo da transformação, e que o ator, com seu corpo, sua emoção e razão, pode tornar visível o invisível.
Uma outra face também importante da montagem é a abordagem do feminino no universo muriliano, essa força sempre reprimida que ressurge poderosa e que detona o fantástico. As mulheres de Murilo são diabólicas, monstruosas, sedutoras e enigmáticas, atraindo para sua teia os homens.
O espetáculo tem uma concepção despojada, onde os elementos cênicos vão se modificando, criando novos lugares, situações, personagens
Escolhemos três contos para explorar: “A Lua”, “Bárbara”, e “Os três Nomes de Godofredo” e tomamos a liberdade de usar o título de um outro conto, não incluído, nomeando o espetáculo: “A Casa do Girassol Vermelho”.
Para nós “ela” significa o lugar mágico, onde ficam guardados os elementos fantásticos de Murilo Rubião que nos propusemos desvendar.
Poderíamos dizer que a palavra-chave da montagem é a metamorfose. Nada é definitivo, tudo se transforma, e transformando leva o homem comum a refletir sobre o seu cotidiano.
Cia. Sonho e Drama (1991)
Programa do espetáculo
Galeria de fotos
Fotografias de esnsaio e espetáculo realizadas por Guto Muniz no Teatro Marília, em Belo Horizonte, no ano de 1991.
Equipe
Adaptação/direção: Cida Falabella
Preparação corporal/instrumental: Gil Amâncio
Cenografia: Cia. Sonho e Drama
Objetos cenográficos/adereços: Wanda Sgarbi, Marco Paulo Rolla
Iluminação: Carlos Rocha
Figurino: Cida Falabella
Costureiras: Tina e Alice
Trilha sonora: Gil Amâncio
Execução: Cia. Sonho e Drama
Programação visual: Léo Ladeira
Elenco: Simone Ordones, Rita Clemente, Epaminondas Reis, Elisa Santana e Chico Aníbal
Produção executiva: Adriana Kaelbe Calixto, Maria Aparecida de Souza Rodrigues
Produção geral: Cia. Sonho e Drama
Cia. Sonho e Drama
A Cia. Sonho & Drama, companhia teatral mineira fundada em 1979 em Belo Horizonte por Carlos Rocha, Adyr Assumpção, Luis Maia e Hélio Zollini, destacou-se no cenário teatral brasileiro por sua abordagem coletiva e inovadora. Surgiu em um período de efervescência cultural em Minas Gerais, ao lado de grupos como Oficcina Multimédia e Galpão, buscando renovar a linguagem teatral e consolidar uma produção artística autônoma. Seu primeiro espetáculo, “O Processo” (1981), baseado na obra de Franz Kafka, recebeu o Troféu João Ceschiatti e críticas positivas por equilibrar experimentalismo e crítica política sem cair no panfletarismo.
Em 1985, a companhia conquistou projeção nacional com “Grande Sertão: Veredas”, primeira adaptação teatral do romance de Guimarães Rosa. A montagem, aclamada por transpor a complexidade literária do texto para o palco, utilizou uma dramaturgia performativa e fragmentada, consolidando o conceito de transcriação — prática que reinterpretava obras literárias com liberdade poética, transformando-as em novas criações cênicas. Esse método, inspirado no poeta Haroldo de Campos, aliou-se a técnicas como cartografia e bricolagem, explorando narrativas não lineares e a interação com o público.
A Cia. Sonho & Drama valorizava o trabalho coletivo, envolvendo todos os integrantes nas etapas criativas, do roteiro à encenação. Essa dinâmica resultou em espetáculos como “Antígona” (1986), versão radical da obra de Brecht, e “Vida de Cachorro” (1988), peça infantil que permaneceu em cartaz por cinco anos e circulou por festivais internacionais. Em 2002, o grupo reestruturou-se como Zona de Arte da Periferia (ZAP 18), direcionando seu foco para projetos socioculturais e formação teatral em comunidades periféricas, mantendo seu compromisso com a democratização da arte.
Ao longo de sua trajetória, a companhia deixou um legado marcante no teatro brasileiro, não apenas por suas montagens ousadas, mas também por sua contribuição à formação de artistas e à pesquisa cênica. Sua abordagem, que mesclava literatura, performance e crítica social, influenciou gerações e reforçou o papel do teatro como espaço de reflexão e transformação.
Outro espetáculo da companhia no Trilhas da Cena
ANTÍGONA (1986)
Antígona trata da luta pelo poder desencadeada na cidade de Tebas, onde dois irmãos – Polinice e Etéocles – morrem guerreando-se mutuamente. O tirano Creonte, tio dos jovens, proíbe que Polinice, o invasor seja enterrado. Antígona, irmã dos dois combatentes, desrespeita o decreto e dá sepultura ao irmão, invocando as leis divinas e os costumes, segundo ela, mais fortes do que aquelas estabelecidas posteriormente pelos homens.
As fotografias deste espetáculo de autoria de Guto Muniz foram feitas em filme e digitalizadas a partir de recursos do projeto “O teatro em BH no final do século XX – digitalização do acervo de Guto Muniz”. Projeto nº 0821/2020
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