A Trilogia Wesker chega ao Brasil pela primeira vez pelas mãos da Companhia Bípede de Teatro Rupestre. Escrita entre o final da década de 1950 e o início dos anos 1960 por Arnold Wesker, no contexto do pós-guerra britânico, a obra investiga as transformações políticas, afetivas e culturais que atravessaram a classe trabalhadora inglesa, traçando paralelos com a realidade brasileira contemporânea.

As três peças interligadas acompanham as tensões, rupturas e sonhos de uma mesma família ao longo de décadas na Inglaterra do pós-guerra. Em Canja de Galinha, Sarah Kahn tenta manter amigos e família unidos ao redor da mesa de jantar enquanto os efeitos de duas grandes guerras rugem. A encenação mergulha nas tensões do cotidiano familiar e nos pequenos gestos de resistência que nascem dentro de casa.

Raízes apresenta a jovem Beatie, que volta à casa dos pais com ideias novas na cabeça, mas ninguém parece disposto a escutar. A peça se inspira na palhaçaria de picadeiro para revelar a potência de uma mulher comum que encontra sua própria voz em meio ao ruído familiar.

Em Estou Falando de Jerusalém, o casal Ada Kahn e Dave Simmonds abandona a cidade para tentar viver conforme seus princípios. A montagem se inspira no teatro-fotografia, especialmente na obra de Robert Wilson, para tensionar o contraste entre sonho e realidade.

A nova montagem da Companhia Bípede de Teatro Rupestre articula diferentes tradições cênicas para dar forma ao conjunto, retornando sempre a uma mesma pergunta: o que acontece com nossos sonhos quando a realidade bate à porta?

Arnold Wesker (1932–2016) é considerado um dos maiores dramaturgos britânicos do século XX. Filho de judeus socialistas do East End londrino, transformou a experiência da classe trabalhadora em poesia cotidiana e questionamento político.