Black Machine propõe um encontro do personagem Hamlet, de William Shakespeare, com a Ofélia de Heiner Muller, da obra Hamlet Machine (1972). Contemplada na 20ª edição do Prêmio Zé Renato – Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, a peça busca discutir o legado de Hamlet e sua influência até os dias de hoje.

Com dramaturgia de Dione Carlos, Fernando Lufer e Eugênio Lima, o trabalho é dividido em três partes e promove um embate radical entre esses dois grandes cânones do teatro ocidental, confrontando temas como gênero, raça, necropolítica, masculinidade, dor e desejo.

Para garantir o caráter atemporal da obra, os dois personagens centrais são pós-coloniais. Hamlet é atravessado por vozes como as de Frantz Fanon, Jean-Michel Basquiat, Aimé Césaire e Mano Brown, enquanto Ofélia é inspirada por nomes como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Erykah Badu.

Durante a encenação, que se alterna entre delírio, manifesto e performance, Ofélia desafia Hamlet a assumir outro papel. Os personagens clássicos tentam ser atores, mas “incorporam” em corpos negros em pleno século 21, investigando as implicações disso.

A montagem segue a estética do audiovisual expandindo, com destaque para a música constante e a presença de uma videografia projetada dividida em três telas. A peça aposta em um visual afro-surrealista, mesclando passado, presente e futuro, onde todos os tempos acontecem simultaneamente.