Carta à Rainha Louca é um espetáculo musical que adapta a obra homônima de Maria Valéria Rezende, contemplada com o Prêmio Oceanos em 2020. A peça conta a história de Isabel das Santas Virgens que, isolada num convento em Olinda, escreve uma carta à Rainha Maria I de Portugal, conhecida como Rainha Louca, relatando sua trajetória e denunciando as violências cometidas pelos homens no período do Brasil colônia.

Isabel é presa e acusada injustamente por tentar estabelecer na região de Minas Gerais um convento feminino clandestino, quando na verdade tratava-se de uma comunidade criada para acolher mulheres pobres, sem família, sem renda, sem destino: as chamadas “sobrantes”. Encarcerada por cerca de três anos, ela acreditava que sua libertação viria através do poder das palavras.

O espetáculo utiliza o poder de um coro de 17 vozes para ampliar as questões apresentadas no livro, dando protagonismo às mulheres pobres, enclausuradas em conventos, às mulheres escravizadas, às meninas de famílias ricas usadas como moeda de troca em casamentos arranjados e tantas que foram apagadas da história. A música ganha papel de destaque, remetendo tanto aos estilos musicais do século XVIII quanto aos ritmos mais contemporâneos.

A obra nasceu a partir de uma carta real encontrada por Maria Valéria Rezende nos arquivos históricos ultramarinos em Lisboa, em 1982, endereçada à coroa portuguesa, que apresentava a defesa de uma mulher alegando ter sido presa injustamente por insubmissão à Igreja.