“Chá com Tchekhov.2 – Ausência” escancara a cena como espaço de decadência, provocação e desamparo. Três personagens: uma socialite falida, um coach de investimentos e um motorista de aplicativo, se encontram para um chá. Esperam por um amigo que está atrasado. 

A peça dá sequência à primeira etapa do projeto do grupo Fragmentos do Baú, agora mergulhando no metateatro, estabelecendo um jogo com a plateia. Todos atuam no vazio de si mesmos, encenando a tentativa de existir em um mundo em decadência.

Os personagens expõem suas vidas, enquanto vozes com trechos de Tchekhov emergem como fantasmas de um tempo que não passa. Essa fricção dialoga com confissões amargas, contradições sociais e perdas irreparáveis. A ausência virou personagem. E a incomunicabilidade, protagonista. E o dinheiro que lucra com a ruína.

O palco se torna terreno movediço, onde a ausência vira matéria cênica e tudo acontece como se fosse sempre um ensaio interrompido, entre silêncios desconfortáveis, confissões atravessadas e uma garrafa de vodca que desenterra as memórias que resistem ao tempo.

Com dramaturgismo de Klever Schneider, e no elenco Maísa Shorn, Thales Huebra e o próprio autor, “Chá com Tchekhov.2 – Ausência” transforma o palco num campo minado por memórias instáveis, sarcasmo melancólico e personagens tentando acertar as contas com um passado que ainda pulsa.

Aqui, o metateatro não é apenas forma, é ferida aberta. “Ausência” é personagem, cenário e ponto final adiado.

Tudo ali parece prestes a acabar ou recomeçar, como num loop de espera, onde a incomunicabilidade grita mais alto do que qualquer texto.

E o chá… esfria.