GANGA é uma emergência teatral que conecta o passado escravocrata da mineração brasileira com os crimes socioambientais contemporâneos. O espetáculo do Coletivo ATERRA propõe uma reflexão crítica sobre as continuidades entre a mineração do século XVIII em Vila Rica e o crime ambiental ocorrido em Brumadinho, em janeiro de 2019.

A trama acompanha Luzia Medeiros, funcionária de uma mineradora, em uma jornada que atravessa séculos de exploração. De Vila Rica no século XVIII a Brumadinho no século XXII, a personagem descobre que “morre-se de febre e de fome sobre as riquezas da terra”, revelando como a mineração segue devastando vidas pelo curso do Rio Paraopeba.

Fruto de dois anos de investigação, GANGA combina pesquisa documental, relatos colhidos em campo e ficção para criar uma abordagem única sobre a tragédia. O espetáculo mescla depoimentos do presente com cenas históricas, fazendo dialogar os vissungos – cantos afrobrasileiros criados em Minas durante o ciclo do ouro – com poemas de Carlos Drummond de Andrade, que elaboram poeticamente a devastação provocada pela Vale no século XX.

O Coletivo ATERRA, formado por estudantes da Licenciatura e do Bacharelado do Departamento de Artes Cênicas da USP, sempre associa criação cênica à pesquisa e pedagogia. Desde sua fundação em 2022, o grupo se dedica à elaboração teatral dos crimes de Brumadinho e Mariana, interpretados a partir das cosmopercepções afrobrasileiras.