O espetáculo Infância nasceu de uma jornada pelos locais que inspiraram a obra autobiográfica de Graciliano Ramos. Em 2021, o ator Ney Piacentini e o contrabaixista Alexandre Rosa viajaram pelo sertão de Pernambuco e Alagoas, visitando Quebrangulo, Viçosa, Palmeira dos Índios e Buíque, cidades mencionadas no livro do autor alagoano.

A experiência sensorial dessa viagem resultou em uma transcrição cênica e musical que prioriza aspectos como a falta de trato familiar, a precariedade do ambiente escolar e as dificuldades no letramento vivenciadas por Ramos. O trabalho reflete o Brasil da virada do século 19 para o 20, com suas dificuldades educacionais e violências institucionais que ecoam até hoje.

A encenação incorpora o estilo objetivo de Graciliano Ramos. Em cena, apenas o essencial: livros, banquinhos de madeira e instrumentos musicais que se transformam em personagens. A música constrói a atmosfera e guia a narrativa, com Alexandre Rosa utilizando contrabaixo, viola caipira, violão, harmonium e shruti box. Cada instrumento representa um membro da família: violão para o pai, viola caipira para a mãe, violino para a irmã mais nova e contrabaixo para a irmã mais velha.

As composições de Rosa se inspiram em Villa-Lobos, Francisco Mignone e Almeida Prado. Os instrumentos indianos aparecem quando o protagonista fala de livros e escola, criando uma paisagem sonora que dialoga com a literatura humanizadora de Ramos.

O espetáculo estreou em 2022 e já circulou por diversas cidades brasileiras, sendo apresentado em teatros, bibliotecas, CEUs, universidades e feiras literárias. Em 2023, Alexandre Rosa foi indicado ao Prêmio Shell na categoria Melhor Música.