Sucesso da In Cena Produções, o espetáculo “O Auto da Compadecida” volta ao cartaz, a partir de 2 de maio, para curta temporada na Sede Cia dos Atores, na Lapa. Escrito em 1955, o famoso texto de Ariano Suassuna (1927-2014) já ganhou diversas montagens no teatro, no cinema e na TV. Agora, a dupla de diretores Claudia Ventura e Alexandre Dantas apresenta uma versão contemporânea das peripécias de João Grilo e Chicó. A peça estreou em 2023 e fez temporada também ano passado, sempre com sessões lotadas.
“A gente está muito feliz com a volta do espetáculo, justamente no ano em que o texto do Ariano Suassuna completa 70 anos. Esta nova temporada também é uma forma de honrar o legado deste grande autor. A nossa adaptação está mais próxima do texto original do que a dos filmes, e a gente espera que novos espectadores venham à Lapa conhecer essa história”, celebra a diretora artista da In Cena Produções, Cella Bártholo.
Em “O Auto da Compadecida”, somos transportados para o sertão nordestino com uma trupe de circo que recria um retrato abstrato da região. Através das incríveis aventuras e confusões dos conhecidos e amados personagens João Grilo, o típico anti-herói brasileiro, e Chicó, seu fiel escudeiro, a peça aborda temas como a religiosidade popular, corrupção e desigualdade social, sempre com um tom de humor, ironia e irreverência característicos da obra de Suassuna.
Apesar de fiel ao texto, esta não é uma montagem com elementos caricaturais do Nordeste, onde a história se passa. Para narrar as trapaças e artimanhas dos protagonistas, os diretores optaram por uma encenação focada no ator e na palavra, isto é, criada a partir da relação do elenco com a obra. “O grande diferencial nesta montagem é a inspiração nas origens do circo-teatro. O elenco é uma trupe, um grupo de contadores, que chega ali para se divertir e contar essa história, sem cair no óbvio. Quisemos trazer uma encenação diferente que toque e fique nas pessoas”, diz Claudia.
A ausência do sotaque foi uma das escolhas da direção, assim como o cenário e o figurino, que foram trabalhados sem muitos elementos que remetessem diretamente e/ou sublinhassem as características regionais. “O Ariano é tão genial que a estrutura das frases já evoca esse espaço físico nordestino. Por isso, não precisa ter o sotaque, o padre com a batina. Apenas evocamos esses elementos”, explica Claudia. Segundo ela, a ideia é induzir que cada pessoa na plateia imagine o seu próprio cenário através da palavra, da manipulação dos objetos e do jogo de cena corporal. “A imagem do que está sendo construída em cena só termina na cabeça de quem está assistindo”, conclui.
Outra preocupação dos diretores foi tentar manter a originalidade do texto de Suassuna, mas suprimindo aspectos datados, que não cabem mais ser replicados. “Estamos falando de um texto de 1955 e isso nos fez deparar com um discurso patriarcal que está desatualizado. Nesses casos, optamos por suprimir algumas falas, mas sem perder a piada, claro”, explica Alexandre. O mesmo foi pensado para as cenas de violência, mas, dessa vez, o artifício foi se apoiar no humor. “Outro ponto que nos deparamos foi com a quantidade de mortes. Resolvemos, então, ir na direção do humor, pra palhaçaria e teatralidade, buscando suavizar essa violência presente na trama”, diz.
A montagem conta com 21 atores, entre profissionais e iniciantes, que fizeram parte do curso de “Prática de Montagem” da In Cena.