Encerrando o segundo semestre de 2025, a turma de teatro da noite do CEFART apresenta Talvez eu tenha aberto meus olhos no escuro e olhado, espetáculo que reflete sobre a coletividade e a migração. A obra possui duas inspirações: o livro “Só um pouco aqui”, da escritora colombiana María Ospina Pizano, e um acontecimento de 2023, em que um navio com mais de 400 migrantes ficou à deriva no Mar Mediterrâneo. Com direção e dramaturgia original assinadas por Anderson Feliciano, Mestre em Artes Cênicas pela UFOP, a peça narra a história de um grupo de treze pessoas que decide partir, coletivamente, da sua terra natal.

O espetáculo une as linguagens das dramaturgias e das artes visuais, em uma cena-instalação que será ativada pelos corpos que migram constantemente pelo espaço. A proposta dramatúrgica dá continuidade às pesquisas do diretor sobre dramaturgia-arquipélago e é composta por um prólogo e seis ilhas que não possuem necessariamente uma lógica linear, mas apresentam uma progressão temática que questiona quem pode migrar e quais são os limites e os desejos que movem esse gesto. No palco, alguns elementos se destacam: escadas, mantas felpudas e um bote inflável. Esses materiais evocam um simbolismo da migração, mas passam a agregar outros sentidos por meio da interação dos personagens. As mantas, por exemplo, surgem com o objetivo de abrigar, mas também têm a capacidade de ocultar, generalizar e descaracterizar.

A obra não delimita um motivo específico que tenha provocado a partida do coletivo, o que fez com que os próprios intérpretes tentassem preencher essa lacuna a fim de compreender os personagens e as cenas que são narradas, fazendo com que a turma participasse ativamente na criação da obra.