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O Corre Coletivo Cênico, criado por multiartistas, gays e negros, em fins de 2019, se debruça sobre os impactos da masculinidade na construção da identidade gay. Nesse sentido, vem desenvolvendo pesquisas e ações que visam desconstruir o que seria a ideia da “coisa de macho”. Com trajetórias que perpassam o interior do estado e/ou as periferias da capital, todos são marcados por situações violentas diante de trejeitos considerados femininos, assim como por discursos opressores do tipo “tome jeito de homem”, “você é a cara da AIDS”, “isso é coisa de viado”, percebendo-se como corpos abjetos na sociedade.
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Identidades
As células cênicas têm por costume exprimir o resultado das somas de identidades e identificações de seus membros através do seu fazer artístico. E é quando identidades, mesmo com diferentes universos expressivos acentuados, se identificam em pontos artísticos e políticos, que nasce o Corre, coletivo cênico soteropolitano.
Em sua composição é possível observar, ou perder de vista os limites da fisicalidade dos nomes, trabalho e arte dos respectivos, Anderson Danttas, ator de reverberação internacional, administrador e bailarino; o produtor cultural, também bailarino e ator Igor Nascimento; o pesquisador do teatro do real, especialista em gestão cultural e política, além de artista multifacetado, Luiz Antônio Sena Jr.
Completando essa engrenagem que faz o Corre rodar temos, Marcus Lobo, pesquisador em arte e mídias com foco na visualidades da cena e elementos técnicos, atuando profissionalmente também como diretor, ator, dentre outras colocações; Rafael Brito, ator, assistente de direção e das comunicações enquanto produtor, assessor, repórter, dentre outros postos; e Muri Almeida, ator, dançarino, DJ e pesquisador da arte transformista com foco em estética.
Clique sobre as imagens para ampliá-las e identificar cada integrante do coletivo.
Processos
2020
DELIVERY DA GENTE
A partir de relatos biográficos, ficcionais e de interações propostas pelos atuantes, o coletivo corre apresenta Delivery da gente, uma incursão pelas plataformas Instagram, Whatsapp, e-mail e, por fim, o encontro via zoom. Um experimento degustativo que reúne 05 bichas – Anderson Danttas, Igor Nascimento, Luiz Antônio Sena Jr., Marcus Lobo e Rafael Brito -, que oferecem seus corpos como pratos, arquétipos de desejo, para relatarem caminhos percorridos no processo de formação da identidade gay de cada um deles. Muitos “eus”, feridas, batalhas, argumentações, transgressões.
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IMERSÃO NO SÍTIO SANTA TEREZA
Em setembro de 2020 acontece o primeiro processo de imersão do coletivo corre, para começar a desenvolver o projeto Corre pra sentir, foram 4 dias completamente imersos no Sítio Santa Tereza, sem comunicação externa, onde ocorreram: oficinas, jogos de improvisos, rodas para diálogos, onde era compartilhada as vivências dos integrantes, construção de painel e mini-doc.
2021
PROJETO PARA-ISO
Após meses de pesquisas e de imersões, o Corre Coletivo Cênico estreiou virtualmente, no dia 10 de abril, Para- iso, espetáculo teatral dividido em 08 episódios disponíveis pelo Youtube do Corre.
Para-iso propõe uma reflexão sobre o modo como o HIV/AIDS e a COVID-19 têm atingido os corpos gays, numa tentativa de tecer uma correlação entre as duas epidemias. Até 24 de março de 2021, havia morrido em um ano mais pessoas de COVID-19 (317.936) do que de HIV/AIDS (281.156) nessas quatro décadas.
Para-iso é uma carta aberta, um manifesto, uma mensagem disparada para atingir a todes sem distinções.
O projeto teve apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc) via Lei Aldir Blanc, coordenada pela Secretaria Especial de Cultura e do Ministério do Turismo, Governo Federal.
2022
CONVERSAS PRO PARAÍSO
O Conversas pro Paraíso se propõe a ir de contra a desinformação, a criação do medo, a culpabilidade, o silêncio, os armários subjetivos e as ilhas sociais. Tendo o diálogo como um ato que convoca a análise crítica da realidade, movimento de criação de novas narrativas, trazendo diversidade e representatividade para o processo e conteúdo final. Realizado já em duas edições, a primeira edição em formato de lives através da rede social instagram, com intuito de discutir e reverberar as temáticas abordadas no espetáculo Para-iso, recebemos diversos convidados, pesquisadores, artistas, infectologistas, gestores de ONGs e/ou espaços culturais que abraçam o movimento LGBTQIAPN+.
Devido as reverberações dessa primeira edição, desenvolvemos o projeto e mudamos para o formato de videopodcast, completados com o Prêmio Cultura na Palma da Mão/PABB via Lei Aldir Blanc, lançamos 5 episódios no canal do youtube do coletivo. A cada episódio um convidado distinto, trazia suas vivências e pesquisas a respeito do HIV/AIDS, buscando evidenciar a pluralidade e a diversidade de falas.
CONVERSAS PRO PARAÍSO
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CORRE PARA SENTIR
O Corre pra sentir teve sua primeira temporada em maio onde o Corre Coletivo desenvolveu encontros com homens gays para trocar ideia, afetos, experiências numa perspectiva de construir outras visões para a mesma história. Os encontros trazem práticas corporais e jogos teatrais como disparadores de memórias para trocas de afetos e histórias de vida. Um espaço de acolhimento, para se conhecer e se reconhecer a partir da história do outro.
Indo agora pra sua segunda edição o Corre pra sentir, busca discutir sobre os direitos: “todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Nos diz um dos artigos do que se entende enquanto direitos universais. Pensando neles e nós “bixas”, o Corre Coletivo Cênico apresenta a segunda temporada de encontros de afetos de homens gays.
2023
MUSEU DO QUE SOMOS
O que é um museu? Quem é que escolhe o que está sendo exposto? Como é o seu museu? O que você anda curando e expondo? Entre documentos oficiais, materiais biográficos, observações coletivas e levantes poéticos, o Corre Coletivo Cênico cria a peça Museu do que somos, uma experiência cênica-performativa-museológica que questiona a memória e as narrativas hegemônicas, comumente expostas em museus, galerias e espaços de arte e cultura. Com direção e dramaturgia de Luiz Antônio Sena Jr, a obra é construída a partir da vivência de seus integrantes (Anderson Danttas, Muri Almeida e Rafael Brito) e da interação com homens gays a partir de um circuito de rodas de diálogos realizados em 2022, na cidade de Salvador (BA), sendo recriada a cada encontro-visita pública, junto com o público, que é convidado a partilhar suas memórias, a se colocar diante de interrogativas e curar cada “peça” exposta, numa tentativa de colocar em evidência histórias coletivas. Nesse sentido, encruzilha contextos e reflexões sobre sexualidade, territórios, raça e sorologias, afirmando as presenças corporais e imateriais LGBTQIAPN+, negras, indígenas, do interior para o mundo.
2024
LEVANTE
Mergulho ancestral.
Há duzentos anos uma grande mobilização popular culminou na independência da Bahia, no dia 2 de julho de 1823. A libertação política de um território de sua colônia. Mas, no contexto atual, muitos são os corpos aprisionados em preconceitos e violências sociais – racismo, machismo, LGBTfobia, entre outros – que impedem o deslocamento destes corpos. É neste ponto que surge o projeto Levante, que busca questionar as idéias de independência e afirmação dos sujeitos na sociedade. O ponto de vista está sob o sujeito ao invés do território, como fora há dois séculos.
Levante faz parte de uma pesquisa artística do Corre sobre as normatividades sociais e os impactos da colonização que há séculos atravessam as existências dissidentes, a exemplo de pessoas LGBTQIAP+, mulheres e corpos negros. O projeto passou por Alagoinhas, Cachoeira e Salvador, contando com a participação de cerca de 60 estudantes secundaristas e artistas locais nas performances em multidão, além de ter contado com artistas contemporâneos implicados em questões que perpassam pela afirmação dos sujeitos em dissidência à colonialidade – o artista plástico e grafiteiro Pinho Blures, em Alagoinhas, a performer e artista plástica Tina Melo, em Cachoeira, e o multiartista Caboclo de Cobre, em Salvador.
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Prêmios e editais
• Prêmio das Artes Jorge Portugal 2020 – Premiação Aldir Blanc Bahia – Fundação Cultural do Estado da Bahia – FUNCEB
Realização do projeto de criação da obra “Para-iso”
• Edital de chamada pública Prêmio Cultura na Palma da Mão – a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT/BA
Realização do projeto “Conversas pro paraíso”
• Indicação ao Prêmio Braskem de Teatro na 28 edição, nas categorias: espetáculos adulto, texto e direção.
Vencedor na categoria melhor direção para Luiz Antônio Sena Jr, pelo espetáculo “Para-íso”
• Edital de chamamento público Diálogos Artísticos – Bicentenário da Independência da Bahia – categoria iniciativas artísticas
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