Trilhas da Cena

Banner preto com texto em branco e vermelho "O Teatro e a Democracia Brasileira Parte Um" e logotipos da Funarte, do Ministério da Cultura e do Governo Federal do Brasil, além de informações sobre o programa e o financiamento.
Banner promovendo um projeto de teatro com logotipos da Funarte, do Ministério da Cultura e do Governo Federal do Brasil. O texto diz: "O Teatro e a Democracia Brasileira Parte Um" e menciona o Programa Funarte Retomada 2023 - Teatro.

ENFIM UM LÍDER

Dramaturgia: Pedro Bennaton e Luana Raiter

Concepção e direção: Pedro Bennaton

Realização: ERRO Grupo (SC)

Estreia: 2007

Página atualizada em 04/12/2025

Sinopse

O ERRO Grupo, formado por Luana Raiter, Pedro Bennaton, Sarah Ferreira, Luiz Cudo e Michel Marques, considera Enfim um Líder seu trabalho mais abrangente, já que desafia todos os cidadãos envolvidos em uma recepção que dura 3 dias, totalizando 42 horas de um acontecimento histórico, político e social para a cidade envolvida. São dias de intensa recepção ao Líder, sempre das 6h às 20h, culminando com sua chegada no 3º dia às 19 horas.

 

Enfim um Líder ultrapassa a fronteira do teatro e da arte para se transformar em um acontecimento nos centros urbanos em torno da expectativa e da chegada de um Líder. Com a obra, o ERRO Grupo dá continuidade à pesquisa de intervenção no cotidiano das pessoas, realizada desde 2001, ao voltar-se para uma grande ação na cidade que se dilui no espaço e tempo do ambiente urbano ao mesmo tempo em que o ocupa.

Realidade e ficção do espaço público

A formação do ERRO Grupo de Teatro germina durante a greve de 100 dias que ocorreu na UDESC, no ano 2000, na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, com a participação de alunos e alunas de artes cênicas e artes visuais. Em apoio ao movimento e às pautas estudantis, esses estudantes participaram ativamente da greve. Em 2001, forma-se oficialmente o ERRO Grupo, conduzido por Luana Raiter e Pedro Bennaton, com a participação de parceiros e colaboradores mais ou menos estáveis.

 

Luana e Pedro são artistas-pesquisadores aguerridos e comprometidos com as questões sociopolíticas do país. A maioria de suas criações estabelece um diálogo (ou fricção) entre temas sociopolíticos e o ambiente urbano, por meio de espetáculos que tensionam os limites entre realidade e ficção.

 

As dinâmicas do espaço público urbano são centrais no histórico do ERRO porque expõem a organização das relações sociais e os processos de poder que atravessam seus fluxos, em particular o capitalismo. Para os artistas do ERRO, a arena urbana, a instabilidade, a incerteza e o risco que a acompanham representam a intensidade coletiva sobre a qual depositam seus interesses estéticos e políticos.

 

Enfim um líder é uma intervenção urbana que estreou em dezembro de 2007 no calçadão da rua Felipe Schmidt, no centro de Florianópolis – região de grande circulação e comércio. Nesse local, durante três dias consecutivos (das 6h da quarta-feira até as 20h da sexta-feira), o ERRO realiza ações cênicas no espaço público enquanto prepara a recepção de uma figura (popular) anônima, amplamente divulgada e supostamente muito esperada.

Em 2007, ainda sem a influência das redes sociais, a forma mais eficiente de controle, disseminação e construção de realidades no campo da política era orquestrada por poderosas ferramentas de marketing, que saturavam todos os meios de comunicação da época. Segundo os criadores, as estratégias de preparação para a fictícia chegada de Enfim um líder incluíam o uso tradicional de recursos de divulgação, como distribuição de panfletos e cartazes, circulação de carro de som anunciando local e data do grande evento, entre outros. Para tanto, a dramaturgia se constrói como um roteiro de ações com muito espaço para improvisações.

Em Enfim um líder, o grupo explora os limites entre realidade e ficção no contexto urbano. Durante três dias, os atores-personagens se misturam à população e aos transeuntes, realizando ações como lavar e decorar a rua, preparar shows de recepção, expor faixas de boas-vindas e ensaiar gritos de saudação. Cartas-convites são enviadas a representantes do poder público local para comparecerem ao evento, e releases enigmáticos são encaminhados aos jornais. Além disso, os artistas do ERRO participam de entrevistas em TVs e rádios, reiterando a narrativa que anuncia a chegada do líder.

 

A combinação das estratégias de divulgação e das ações performativas intensifica as tensões entre o real e o “fabricado”. O resultado é a ampliação do espaço da rua em um campo democrático de discussão e reflexão, envolvendo tanto os mecanismos de marketing, responsáveis pelo estabelecimento de uma falsa expectativa comum, quanto a discussão sobre a ilusão que media o desejo por um salvador social. 

 

Em Enfim um líder, a espera encenada por três dias se transforma na certeza de que o líder não virá, e na percepção de que o estado de expectativa pode ser um afeto produzido por uma falácia orquestrada pela artimanha midiática. Nesse momento do trabalho, a estrutura simbólica e o estado de jogo, que sustentam a experiência ficcional e de convivência, constituem uma ágora provisória a céu aberto. Ao público é oferecido um púlpito (que inicialmente receberia o líder) para que expressem opiniões e desejos em relação à realidade política que os circunscreve, sem a mediação de um líder. Ações como essas estão no cerne das noções de democracia praticadas pelo ERRO Grupo.

 

Em 2007, o Brasil vivenciava o final do primeiro mandato e o início do segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Havia, naquele momento, em parte da sociedade, um estado de euforia justificado por avanços sociais recentes e pelo vislumbre do estabelecimento concreto do estado democrático de direito em um país atravessado por correntes conservadoras e idealizações populares que ainda clamavam por “salvadores da pátria”.

 

Hoje, Enfim um líder, do ERRO Grupo, talvez precisasse lidar menos com as mídias tradicionais e mais com as plataformas digitais e a desinformação política propagada nas redes sociais. Ainda assim, mantém sua relevância ao provocar  reflexão sobre a construção de mitos e a necessidade do protagonismo coletivo em tempos de crise.

 

Sueli Araujo é pesquisadora e curadora do projeto O teatro e a democracia brasileira.

Vídeos

Enfim um Líder (2011) – Vídeo longo

ERRO convida para a chegada do Líder

“Desde 2007 o ERRO Grupo trabalha nessa recepção quando realizou a primeira tentativa frustrada de trazer o Líder ao Centro de Florianópolis. Após essa primeira saga, o grupo buscou recepcionar o Líder por mais 10 vezes em diversos locais, Biguaçu, Lagoa da Conceição, Lages, Palhoça, São José e UFSC, contudo em todas as recepções ocorreram sérios empecilhos que coibiram a espetacular chegada do anônimo, idolatrado, Líder atemporal. As razões que fizeram com que o ERRO realizasse 11 recepções fracassadas do Líder foram inúmeras: a tromba d’água na Lagoa da Conceição no dia 29/02/2008, a manifestação de evangélicos em Florianópolis no dia 21/12/2007, as pedradas no Kobrasol no dia 22/02/2008, os estudantes bêbados da UFSC no dia 18/04/2008, a polícia e a prefeitura de Palhoça que impediram o Líder de chegar à cidade no dia 08/02/2008 pensando que se tratava do criminoso Papagaio, e esquecendo-se de que o Líder é anônimo e não tem nem apelidos.

Mesmo com todos esses fracassos o ERRO Grupo continuou em contato com o Líder e persistiu na dificílima missão em trazê-lo à região da Grande Florianópolis. Agora com dez anos de experiência em ações de rua e com o patrocínio da Petrobras via Lei Rouanet do MinC, o ERRO suspende todas as suas atividades artísticas para uma única ação: esperar a chegada do Líder.”

Acesse o texto na íntegra.

materiais gráficos

Ficha técnica

Criação: ERRO Grupo.
Dramaturgia: Pedro Bennaton e Luana Raiter.
Atuação: Luana Pfeifer Raiter (2007 a 2016), Luiz Henrique Cudo Martins (2007 a 2016), Sarah Ferreira (2007 a 2016), João Garcia Spinelli (2007 a 2013), Michel Marques (2011 a 2013), Rodrigo Sember de Oliveira (Lages, 2008), Tama Ribeiro (Lages, 2008), Juma Marruá (Florianópolis, 2016), Dilmo Nunes (Florianópolis, 2016), Juarez Nascimento Nunes (2011) e Thaís Penteado (2011).
Assistência de cena: Julia Amaral (2007 e 2008), Michel Marques (2011 a 2013), Pedro Bennaton, (2007 a 2016), Tama Ribeiro (2008), Julia Oliveira (2013), Bárbara Cardoso (2013) e Rodrigo Ramos (2016).
Tornearia: Micro-tec Usinagem.
Assessoria de imprensa: Ana Letícia da Rosa.
Web-design: Henrique Palazzo – Obra Tecnologia / Nolab Digital Digital Studio.
Filmagem: Pedro Bennaton (2007 a 2016), Julia Amaral (2007 e 2008), Jullye Zoz (2007), Renata Gordo (2011), Pedro Cabral (2011) e Rodrigo Ramos (2016).
Produção: ERRO Grupo (2007 a 2016) e Exato Segundo (2007 e 2008).
Direção de arte e design gráfico: Luana Raiter e Júlia Amaral.
Concepção e direção: Pedro Bennaton.

Trabalhos acadêmicos

crítica

Jogo urbano e crítico sobre o poder

por Afonso Nilson

Teatrojornal 12.07.2016

“Através de uma condescendência participativa, Enfim um líder estabelece uma espécie de jogo coletivo e solidário.”

 

Acesse o texto completo.

dramaturgia(s)

Poética do ERRO: dramaturgias

“Neste ano, no mês em que o ERRO Grupo completou 13 anos de atuação e pesquisa em teatro de rua e intervenção urbana, o coletivo publicou dois livros: Poética do ERRO: registros e Poética do ERRO: dramaturgias. Ambas as publicações, no total de 1000 exemplares, foram possíveis através do Prêmio Funarte Artes Cênicas na Rua 2012 e foram distribuídas gratuitamente pelo grupo desde seu lançamento no dia 26 de março de 2014). Esta publicação online visa difundir os livros além de suas cópias físicas para, paradoxalmente, tentarmos obter um diálogo mais próximo com os eventuais leitores mesmo que este seja em um espaço virtual.

 

O livro Poética do ERRO: dramaturgias reúne nove textos teatrais criados pelos dramaturgos do grupo, Pedro Bennaton e Luana Raiter: Carga Viva (2002), BUZKASHI (2004), Desvio (2005), Enfim um Líder (2007), Escaparate (2008), AUTODRAMA (2010), Formas de Brincar (2010), Pornosuspense (2011) e HASARD (2012). Com apresentação do jornalista, crítico e pesquisador teatral Valmir Santos, a obra não se estrutura em capítulos, mas se divide cronologicamente em cada texto, que deve ser lido independentemente dos outros. São dramaturgias oriundas de processos de criação que duraram de um a três anos, desde a concepção, ensaios, até a chegada da estreia e ainda lapidações ao longo das apresentações.”

Texto do ERRO Grupo, escrito em março de 2014. Acesse a página original aqui

Baixe aqui o PDF do livro.

O ERRO Grupo, fundado em 2001 em Florianópolis, SC-Brasil, tem o objetivo de realizar uma arte, política-social, como intervenção no cotidiano das pessoas e em seus conceitos, áreas interdisciplinares e linguísticas. Atualmente, o grupo está dividido entre integrantes residentes na capital de Santa Catarina e outros em Barcelona.

 

O ERRO usa espaços públicos como campos de ação e as relações entre as pessoas que andam nas ruas, e busca outras formas de vida e de inserção na cidade. Com mais de duas décadas dedicadas ao teatro e à performance de rua, o grupo segue investigando a união das linguagens artísticas, a atuação na rua, etnografia urbana e a diluição da arte no cotidiano. Através de interferências nos fluxos diários da cidade, na paisagem urbana e nos meios de comunicação, o grupo explora o espaço urbano a partir de seus significados, ambientes, arquiteturas, leis e discursos, através da criação de situações (im)possíveis nas ruas.

ERRO Grupo (Canais):

Esta é a página de um espetáculo selecionado no âmbito do projeto O teatro e a democracia brasileira. As informações nela contidas são de responsabilidade de Pedro Benatton, excetuando-se o texto do curador do projeto, sendo esse de responsabilidade da Foco in Cena, proponente deste projeto. Caso encontre um erro ou divergência de dados, favor entrar em contato através do e-mail contato@focoincena.com.br

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