UBIRAJARA, UMA CANTORIA
Idealização e performance: Soraya Ravenle (RJ)
Direção artística: Inez Viana
Duração: 60 min
Estreia: 2021
Atualizada em 06/01/2024
Foto: Thaís Grechi
Ubirajara, uma cantoria
Soraya Ravenle (RJ)
Direção artística: Inez Viana
Duração: 60 minutos
Estreia: 2021
Atualizada em 06/01/2024
Foto: Thaís Grechi
Era ainda o primeiro semestre de 2020, início da pandemia, quando um planeta inteiro se resguardava em casa, perplexo, sem entender muito do que acontecia. Neste momento, artistas de todo o mundo ocupavam janelas e terraços com sua arte, cantando, dançando e tocando instrumentos na busca de trazer alento e diminuir a solidão de cada um isolado em seu quadrado. Assim fez Soraya Ravenle, ao cantar para os moradores do seu edifício, o Edifício Ubirajara – nome que deu origem à cantoria que começou a ser gestada em plena incerteza, e que chega aos palcos com direção de Inez Viana.
Soraya, Inez e Ubirajara
Agosto pandêmico de 2021
Ubirajara vem do idioma indígena tupi, formado pela junção dos elementos “übürai”, que significa “lança” e pelo elemento “yara”, que quer dizer “senhor”, “senhor da lança” “senhor da vara” Ubirajara nomeia o prédio onde moro há 26 anos, onde criei minha filha. Somente durante a pandemia fui procurar saber o que significa esse nome. Somente durante a pandemia cantei na janela. A primeira vez foi no dia do encantamento do Aldir Blanc, quando puxei O Bêbado e a Equilibrista, e a partir daí outras janelanças vieram, benção Aldir! Conversamos e cantamos, vizinhos que nem se conheciam compartilharam gritos e sussurros, viva as novas redes de afetos!
Das janelanças, fui para a quadra do prédio, já com o olhar da Inez, parceiraça! Agora vamos para o Teatro Sérgio Porto e PetraGold, pra começar a conversa…
Estou só , só fisicamente . No terreiro, ao lado, dentro fora dentro, habita a egrégora sonora virtual de amigues antigos, novos e família: Alfredo Del Penho e Edu Kriegger – violões, Maria Clara Valle-violoncelo, Joana Queiroz-clarone, Libertango: Alexandre Caldi-sopros, Marcelo Caldi-acordeon e Estela Caldi-piano em arranjo do Alê que está no Cd Quatro Ventos, Pc Castinho-flauta, Diego Zangado, Carlos Cesar e Paulino Dias-percussões, João Calado-cavaquinho, Felipe Botelho-guitarras, Julia Bernat e Stella Rabello-violão e vozes, Pedro Luiz-voz em canção de Cd que gravei com músicas de Paulo Cesar Pinheiro, Wallie Ruy-voz, e cantos a capela que virou especialidade da casa durante a pandemia e o pandemônio…
Soraya Ravenle
. . . Eu queria construir uma ruína . Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. ( . . ) queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas , como o lírio pode nascer de um monturo .
Quando a Soraya me pediu para escrever algumas palavras sobre o Ubirajara , me veio trechos desse poema , chamado Ruína, que está dentro de um livro chamado Ensaios Fotográficos, do Manoel de Barros, que ela me deu, há muitos aniversários atrás. Sim, a nossa costura vem de longe… e agradeço toda parceria amorosa e artística, que desde o ano passado estamos vivendo intensamente, com todo o estremecer do mundo.
Como uma artista que busca plantar e colher nos floridos jardins e nos duros asfaltos, ela caminha, atirando flechas na gnose da arte. Canta, como quem perfura nosso corpo, ultrapassa limites, nos convida ao precipício- que é sinônimo de ruína, como quem diz: o caminho é longo e o aprendizado infinito.
E a gente pega na sua mão e vai!”
Inez Viana
Equipe
Idealização e performance: Soraya Ravenle
Direção artística: Inez Viana
Figurino e identidade visual: Débora Crusy
Luz: Tábatta Martins
Mixagem das bases: Nelsinho Freitas
Fotos: Cristina Granato
Teaser: imagens – Fernando Daghlian | Edição – RodrigoMenezes
Direção de produção: Aninha Barros
Produção executiva: Joel Tavares
Assessoria de imprensa: JSPontes Comunicação
Adereço: Malka Manczyk e Maria Oiticica
Roteiro musical
Bricolagem: Boa noite / Aurinha do Coco e Caravana / Geraldo Azevedo e Nuvem Cigana / Lô Borges e Ronaldo Bastos
Amor até o fim – Gilberto Gil
Quem é do amor – Sérgio Sampaio
Nó Molhado – Monsueto
Outro Chão – Soraya Ravenle e Georgette Fadel
Jogo de Fora – Paulo César Pinheiro
Lama – Edu Krieger
Poema Mario Beneditti: Porque cantamos
Vento voa – Soraya – Tatiana Roque e Ana Kiffer
Todo Cambia – Julio Numhauser
Eli Eli – Hanna Senesh
Matem Todos os Ratos – Wallie Ruy
Rosa dos Ventos – Chico Buarque
Bela Ciao – Domínio público
Viola Enluarada – Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle
Mandala musical
Acordeon: Marcelo Caldi (Rosa dos Ventos)
Camadas sonoras: Soraya Ravenle (Viola Enluarada)
Cavaquinho e programação: João Callado (Todo Cambia)
Clarinete: Joana Queiróz (Outro Chão)
Flauta: PCCastilho (Bella Ciao)
Guitarras e base: Felipe Botelho ( Matem Todos os Ratos)
Percussões: Carlos Cesar, Paulino Dias (Jogo de Fora) e Diego Zangado (Nó Molhado)
Piano: Estela Caldi (Rosa dos Ventos)
Saxofone tenor e arranjo: Alexandre Caldi (Rosa dos Ventos)
Violoncelo: Maria Clara Vale (Vento Voa)
Violões: Alfredo Del Penho (Jogo de Fora) e Edu Krieger (Lama)
Voz: Wallie Ruy (Matem Todos os Ratos – Versão de Wallie Ruy e Felipe Botelho para o esboço cênico do Espetáculo “Wonder! Vem pra Barra Pesada” – Inspirado no poema “Matem todas as Baleias” de Claudia Wonder)
Vozes e violão: Julia Bernat e Stella Rabello (Quem é do amor)
Voz: Pedro Luiz (Jogo de Fora)
Soraya Ravenle
Atriz, cantora e preparadora vocal, Soraya Ravenle protagonizou diversos musicais, como Dolores (Prêmio Shell de melhor atriz de 1999), South American Way, Sassaricando, Era no Tempo do Rei (Prêmio Qualidade Brasil), Ópera do malandro, Opereta Carioca, Um violinista no telhado, entre outros. Transita entre a música, o teatro e a TV em shows, peças e novelas. Entre seus trabalhos mais recentes no teatro, estão Instabilidade Perpétua, do livro de Juliano Pessanha, Tom na Fazenda de Michel Marc Bouchard. Na música o Duo ” Caminho” com Pedro Franco, e “O verbo é ir” a partir de texto de Geneton Moraes Neto, com Maria Clara Valle.
Cantoria na quadra
Por que cantamos
Poema de Mário Benedetti
Se cada hora vem com sua morte
se o tempo é um covil de ladrões
os ares já não são tão bons ares
e a vida é nada mais que um alvo móvel
você perguntará por que cantamos
se nossos bravos ficam sem abraço
a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos
antes mesmo de explodir a vergonha
você perguntará por que cantamos
se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram as árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro
você perguntará por que cantamos cantamos
porque o rio esta soando
e quando soa o rio / soa o rio
cantamos porque o cruel não tem nome
embora tenha nome seu destino
cantamos pela infância e porque tudo
e porque algum futuro e porque o povo
cantamos porque os sobreviventes
e nossos mortos querem que cantemos
cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota
cantamos porque o sol nos reconhece
e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta
cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas
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