Trilhas da Cena

Agenda

SABIUS, Os Moleques

Inspirado no livro “Quarto de despejo” de Carolina Maria de Jesus e no clássico de Joseph Conrad “Heart of Darkness” (em português “Coração das Trevas”) – que serviu como inspiração para o filme Apocalypse Now – e também no que chama de “regime da loucura oficial” que vitimiza o mundo na atualidade, o autor e diretor Gerald Thomas constrói em SABIUS, Os Moleques uma dramaturgia autoral que faz reverberar sua visão atenta e crítica para o mundo atual. O elenco da Cia. de Ópera Seca é composto por Apollo Faria, Fabiana Gugli – integrante desde a formação original, em 1999 –, Jefferson Schroeder, Nilson Muniz e Pedro Inoue.

Na trama, um planeta Terra que sucumbiu à humanidade comete suicídio e cai de sua órbita em uma cratera de outro mundo. Ali, cinco sábios, historicamente de eras distintas, depõem a respeito dos momentos que antecederam ao “acidente” sofrido pela Terra e discutem entre si. Eventualmente são interrompidos por fragmentos de algumas coisas preciosas concebidas pela humanidade – música, pintura, literatura –, relíquias despedaçadas que sobraram de todos os tempos condensados, perdidas no espaço, mas que ficam se repetindo em looping durante suas discussões.

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Dia de Jogo

A partir de 5 de dezembro, a Má Companhia, formada por atores e músicos egressos da Uni-Rio, apresenta seu segundo espetáculo, Dia de Jogo, com idealização e texto de Pedro Manoel Nabuco, ator das séries “Jogada de Risco”, criada por Cauã Reymond para o Globoplay, e “Pedaço de Mim”, recordista de audiência da Netflix. Isadora Ruppert, no elenco desta peça, é atriz de “O Agente Secreto”, filme de Kleber Mendonça Filho premiado em Cannes.

O espetáculo reflete sobre a construção da identidade no Rio de Janeiro forjada pela noção de território – desde o futebol, o carnaval, o samba até o baile funk e o mototáxi, das brincadeiras de criança na rua até os jogos de baralho dos mais velhos.

Após um longo período sem se verem, três amigos de infância são levados a relembrar como sua criação os inseriu em um contexto de marginalidade. A relação de periferia com o centro e os bairros nobres da cidade, somada à falta de recursos sociais, educacionais e econômicos, constrói um Rio de Janeiro rapidamente identificado pelos seus moradores e pelo Brasil afora.

Ao trazer a juventude para o palco, Dia de Jogo procura construir um sentimento de identidade e pertencimento, convidando o espectador a perceber as regras não apenas do jogo teatral, mas também dos jogos sociais e culturais que moldam nosso cotidiano.

Tito (Pedro Manoel Nabuco), que ascendeu socialmente de forma duvidosa, está afastado há anos de Almôndega (Heitor Acosta) e Cebola (Kaio Raiol), amigos de infância que não tiveram oportunidades. Depois de um longo tempo, Tito procura os velhos amigos para pedir ajuda: sua esposa Camila (Isadora Ruppert) está desaparecida. Unidos pela urgência inesperada, precisam confrontar o passado e os conflitos éticos que os separaram.

Em contraponto ao universo realista do texto, a cena conta com o uso de bonecos e o contato direto com a plateia. A energia e o vocabulário da periferia são parte integrante da narrativa.

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De Perto Ninguém É Normal

Entrando no seu 25º ano de fundação, com mais de 25 espetáculos na bagagem, a CiaTeatro Epigenia se dedica a encenações que unem arte e entretenimento. Em De Perto Ninguém É Normal, a companhia traz ao palco as confusões de um grupo de teatro às vésperas da estreia, em uma celebração ao metateatro – estilo de narrativa que coloca em cena um grupo de atores encenando um espetáculo teatral.

A peça conta a saga de uma companhia de teatro na noite de estreia de seu novo espetáculo. Está chegando a hora de abrir o teatro para o público e eles mal conseguiram realizar um ensaio geral. Atrasos na chegada dos figurinos, cenário e objetos de cena vão confundindo o elenco e aplacando conflitos generalizados. Quando as cortinas se abrem, obviamente quase tudo dá errado e, para deleite do público, o elenco toma as atitudes mais absurdas para tentar remediar o que não tem remédio! A ordem do diretor é clara: “Aconteça o que acontecer, não parem o espetáculo!”.

Com dramaturgia e direção de Gustavo Paso, De Perto Ninguém É Normal apresenta um elenco com uma mescla de 11 artistas de grande relevância no cenário carioca, incluindo a fundadora da companhia, atriz Luciana Fávero.

O espetáculo tornou-se um verdadeiro fenômeno de público em sua temporada original no SESI-SP em 2023, conquistando uma legião de espectadores e lotando o teatro em todas as sessões. O sucesso foi tão grande que mais de 100 pessoas por dia voltavam para casa sem conseguir ingresso durante os quatro meses de temporada. Em 2024, retornou ao SESI para integrar a circulação “Viagem Teatral”, levando sua irreverência para o interior de São Paulo por mais 4 meses e consolidando-se como uma das produções mais populares e queridas do circuito.

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CHUVA NA CAATINGA

Com a chegada dos 15 anos, a Multifoco Companhia de Teatro leva seu olhar para as infâncias. Não como quem deseja voltar a ser o que já foi um dia, mas como quem busca a inspiração, a resiliência e o frescor dos começos. É com essa proposta que estreia dia 6 de dezembro de 2025, às 16h, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro o inédito Chuva na Caatinga, espetáculo inspirado nas tirinhas do cartunista Henfil e adaptado e desenvolvido pelas muitas mãos que compõem a Multifoco.

Com direção de Ricardo Rocha e Diogo Nunes, a montagem apresenta três personagens do alto da caatinga – a pequena de forte personalidade Graúna, a ingênua cangaceira Zeferina e a intelectualizada cabra Francisca Orelana estão à procura de algo valioso para a humanidade: o sentimento da esperança. Várias dificuldades e descobertas acontecem nesse percurso, como a fome, a seca e a dificuldade de convivência.

A peça valoriza a diversidade artística brasileira na escolha de uma dramaturgia autoral baseada na obra do jornalista e escritor brasileiro Henfil, que em 1964 iniciou sua carreira de cartunista. O projeto se propõe à construção de memória dos 81 anos do seu nascimento e 61 anos de sua obra. Uma singela maneira de manter viva sua criação por meio da recriação de suas histórias e personagens no teatro.

Com a clássica tirinha adaptada para o teatro, o público-leitor pode se surpreender com a encenação. Presentes no processo de criação como parte da pesquisa em expressão corporal, tanto a estética de cartum quanto o desenho animado foram observados na busca de características de movimentação. A montagem traz como elemento fundamental a música, assim como a sonoplastia e as onomatopeias, recurso muito utilizado nas histórias em quadrinhos.

Um dos diretores da peça, que também assina sua cenografia e iluminação, Ricardo Rocha revela que o desejo da montagem nasceu da vontade de celebrar o tempo. “Montar o primeiro espetáculo infantil é como retornar à origem, mas com a maturidade de quem aprendeu a brincar de outros modos. É um gesto de futuro: reencontrar a infância não como passado, mas como potência criadora”, observa.

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ENQUANTO AINDA HÁ

O espetáculo enquanto ainda há estreia em Belo Horizonte no dia 16 de dezembro de 2025, com apresentações até o dia 21, no Galpão 4 da Funarte MG. Com direção de Carolina Cândido, assistência de Flor Barbosa e dramaturgia de Arthur Barbosa e da própria diretora, a montagem reúne Anselmo Bandeira, Camila Félix e Camila Furtunato, em uma produção que convida o público a um mergulho sensorial e psicológico nas fronteiras entre memória, afeto e consciência.

A peça se passa no instante entre o impacto e o silêncio – o lapso de tempo em que a mente do personagem, um terapeuta que acaba de sofrer um acidente, tenta reorganizar os fragmentos de sua vida. A narrativa se estrutura de forma não linear, como um quebra-cabeça de lembranças em que três vozes – Maia, a esposa (Camila Furtunato), Samira, a amante (Camila Félix) e Gilberto, o paciente (Anselmo Bandeira) – orbitam em uma consciência fragmentada. Cada um deles representa uma dimensão do personagem: o controle, o desejo e a dor.

Mais do que um retrato de um homem em crise, enquanto ainda há reflete sobre a fragilidade das relações humanas e o esgotamento afetivo da contemporaneidade. A peça propõe uma reflexão sobre a tentativa de controlar o que se sente e o preço de não se permitir sentir. “O espetáculo fala sobre todos nós, que vivemos tentando equilibrar o que mostramos e o que sentimos. É um convite à pausa, à pergunta sobre o que ainda há de vivo dentro de cada um”, afirma Carolina Cândido.

O espetáculo cruza o teatro com linguagens da estética fragmentada, artes visuais e a neurociência afetiva para criar uma experiência imersiva. O resultado é uma encenação entre a realidade e o delírio, em que corpo e tempo se dissolvem. É um mergulho nas fronteiras da memória e consciência, onde a dúvida entre o real e o ficcional são peças-chave de um quebra-cabeça de reflexões.

Este projeto é realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) e apoio do Ministério da Cultura, do Governo Federal e do Governo de Minas Gerais/Secult-MG, além do PROGRAMA FUNARTE ABERTA 2025.

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7 Gatinhos

7 Gatinhos reestreia no Teatro Oficina com direção de Joana Medeiros, seguindo em temporada até 25 de dezembro. Depois da primeira apresentação numa noite de Natal, a encenação radicalizou, incorporando mais performance, música, perigo, referências cinematográficas e o uso da espacialidade explodida pelo circo.

A peça se passa em um ambiente tenso, onde os membros da família revelam suas verdadeiras faces. Dona Aracy, a Gorda, e Seu Noronha, contínuo da Câmara dos Deputados, vivem num cortiço do Bixiga com suas cinco filhas. Entre silêncios, risos forçados e pequenas barganhas, o pai fecha os olhos para os rumos que cada uma toma, contanto que a engrenagem da casa continue girando.

É a caçula — guardada em um colégio interno como promessa de pureza e futuro — que desmancha o equilíbrio frágil da família. Seu retorno inesperado desencadeia tensões que transbordam os limites do lar, trazendo à tona segredos, desejos e violências que até então se escondiam nas frestas do cortiço.

A encenação percorre o fio entre farsa e tragédia, atravessada pela carpintaria do ator, pelo jogo com a bexiga e pela revanche do feminino, que explode em força bruta e lirismo. No coração do Bixiga, uma família em ruína se transforma em retrato distorcido de uma sociedade inteira.

O autodenominado “Virada da Encruza” é formado por ex-integrantes da universidade antropófaga, espaço de formação do Oficina. A artista multimídia Jup do Bairro foi incorporada ao coletivo após assistir “Senhora dos Afogados”.

“Nos 7 gatinhos, a religião é um disfarce na máscara atarantada das aparências. 1957 se transpõe para 2025”, diz Joana Medeiros.

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Mostra Primeira Infância

A Mostra Primeira Infância promete animar as férias escolares no CCBB BH de 5 a 29 de dezembro. A programação celebra os 15 anos do grupo Eranos Círculo de Arte, referência brasileira em pesquisas sobre protagonismo infantil e uso responsável de tecnologia digital no teatro.

Os espetáculos Caixa Ninho – uma viagem pelo universo lúdico das caixas de papelão para crianças a partir de 1 ano – e Bebê e o Boi Babau – para crianças a partir de 2 anos, com dramaturgia inspirada na cultura popular – são inéditos em Belo Horizonte. Complementam a mostra uma exposição interativa com projeção audiovisual, cinema de animação, oficina de Formas Animadas para crianças e um ciclo de formação para adultos interessados em Teatro para Primeira Infância.

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O céu no meio da cara

Com seu livro de estreia, “O céu no meio da cara” (NAU Editora – 2022), a atriz e escritora Júlia Portes foi uma das cinco finalistas do Prêmio Jabuti 2023 (categoria Escritor Estreante). A obra narra a história de três mulheres – avó, mãe e neta – em meio a revelações diante da morte da filha-mãe.

Baseado no romance, o espetáculo O céu no meio da cara tem direção de Caio Riscado. Para transpor a peça para o teatro, Júlia assinou a dramaturgia ao lado de Denise Portes e Dora de Assis, respectivamente mãe e amiga.

Em cena, as atrizes Carmen Frenzel (Carmelita) e Júlia Portes (Laura) são avó e neta. As duas estão no velório da sua respectiva filha/mãe Marília, que morreu prematuramente aos 53 anos. Com humor ácido, oscilando entre momentos divertidos e tristes, a narrativa dramática vai descortinando detalhes e segredos das histórias dessas mulheres, unidas pela maternidade.

A montagem conta com direção musical e trilha sonora ao vivo de Frederico Santiago, criando uma atmosfera intimista que potencializa a emoção do encontro entre essas duas gerações diante da ausência de Marília.

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A Palma

O Instituto Capobianco estreia o espetáculo inédito A Palma, que finaliza a residência artística de um ano da mundana companhia, com três expoentes das artes cênicas no elenco: Gilda Nomacce, Verónica Valenttino e Donizeti Mazonas, que vivem em cena a saga teatral da atriz Vânia Souto. Escrita a quatro mãos por Claudia Barral e Marcos Barbosa (indicado ao Prêmio Jabuti 2025) a partir do argumento proposto por Mariano Mattos Martins, ator e produtor que lança sua primeira direção no teatro, a montagem propõe ao público uma viagem vertiginosa, pontuada por momentos de êxtase e desilusões, ao ofício do ator.

O que mantém uma atriz viva? A resposta toca em questões contemporâneas como fama, talento, prêmiações e visibilidade através de aspectos fantásticos e dolorosos, que podem ser fontes de adoecimento, presentes na rotina dos atores no exercício da profissão.

Vânia Souto (interpretada por Gilda Nomacce) sofre por não atingir o estrelato e, após um grave episódio de violência, recebe a visita dos amigos Marta Mourano e Sérgio Capanema (Verónica Valentino e Donizeti Mazonas respectivamente) para se livrar de uma situação delicada que envolve sua reputação. Juntos e em busca de uma saída, eles embarcam no onírico universo do teatro e compartilham a potência do sonho na vida dessa atriz central na ficção.

“Esta viagem ao outro, partindo da frase da escritora Rosa Montero, é uma espécie de ode ao teatro, este espaço tão caro onde a loucura é sagrada. A peça apresenta um contexto ficcional permeado por várias outras camadas ficcionais, é o teatro dentro do teatro que nos conduz a esta navegação mapeada proposta em A PALMA”, diz Mariano.

Misturando comicidade a momentos de extrema tristeza e desolação, os personagens passeiam por diferentes universos, espaços e situações que nascem do mesmo lugar: o apartamento de Vânia. Ao mesmo tempo íntima e universal, A Palma se constrói como uma experiência que ultrapassa a narrativa linear e se expande em movimentos fragmentados, ecos de memórias e aparições inesperadas, revelando como o ofício de atuar é atravessado pelo ato de sonhar, por fantasias, traumas e pelo desejo incessante de estar em cena, de ser aplaudido e receber palmas.

A peça é um convite à reflexão sobre a sobrevivência artística em meio às dores e maravilhas do ofício de ser ator em diálogo com a incessante busca por um sonho.

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ENQUANTO VOCÊ VOAVA, EU CRIAVA RAÍZES

Após cinco temporadas de sucesso no Rio de Janeiro, três em São Paulo e passagens marcantes pela França e pelo México, a Cia Dos à Deux retorna ao Teatro Adolpho Bloch em janeiro de 2026 para curta temporada de ENQUANTO VOCÊ VOAVA, EU CRIAVA RAÍZES. O espetáculo é uma experiência sensorial: sem o uso da palavra, constrói uma dramaturgia do corpo em diálogo com as artes visuais, o cinema, a dança e o teatro. Transitando entre o sonho e a realidade, traz à tona conteúdos do inconsciente coletivo como medo, solidão, alma, reconciliação, luz, cura, morte e vida.

Vencedor dos prêmios APTR de Melhor Espetáculo, Melhor Música Original e Melhor Cenário, e Shell de Melhor Cenário, além de indicações aos prêmios APCA e Cesgranrio, entre outros, o espetáculo é um marco da linguagem autoral da Cia Dos à Deux, que há mais de 25 anos emociona plateias em mais de 50 países.

Nenhuma palavra é dita em cena, a dramaturgia é guiada pelos corpos em diálogo com as artes visuais, o cinema, a dança e o teatro. Nesse navegar por várias linguagens, os significados se apresentam diversos e chegam ao público em camadas múltiplas e plurais, em que cada gesto e cada silêncio se tornam portadores de significado, simbolismo e poesia.

Desde sua estreia em 2022, o espetáculo percorreu palcos importantes como o Festival de Avignon (França), o Festival Internacional Cervantino (México), o Festival de Teatro de Curitiba e o Cena Contemporânea (Brasília). Em pouco mais de três anos, a montagem já contabiliza mais de 240 apresentações, consolidando-se como uma das obras mais emblemáticas da companhia.

Esta será a última temporada em 2026 deste espetáculo, até que a companhia estreie sua nova criação “ConfuZo(s) – está escurecendo dentro de mim”, ainda no primeiro semestre, no Rio de Janeiro. A cia também será homenageada com o lançamento de um documentário sobre sua história, dirigido por Roberto Bomtempo e produzido por Canal Curta! e Matizar Filmes.

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