Concerto para Rameirinhas, da CiaSenhas de Teatro foi criado a partir de dois contos da escritora paranaense Luci Collin. A profunda humanidade dos personagens de Collin e sua narrativa pungente dialoga diretamente com a CiaSenhas, fundamentalmente, no que diz respeito ao exercício de perceber a realidade a partir de uma lente dupla: crueldade e delicadeza.

A encenação propõe uma brincadeira erótica que põe em jogo o prazer do corpo, da palavra, da presença do Outro, do flerte e do sexo. Isso, alinhavado por uma narrativa que desloca, reposiciona e complexifica a relação prazer-sexo-prostituição. Para tanto, o espaço cênico insinua uma rua, um beco, uma ruela com plateia em ambos os lados proporcionando uma atmosfera de intimidade e cumplicidade. Neste espaço se desenvolvem dois ambientes: um fictício que sugere um cabaré numa perspectiva urbana e contemporânea, sobre o qual desfilam as personagens presentes nos contos de Collin e, no segundo ambiente, músicos e atores assumem a “real” função de concertistas e condutores do Cabaré.

O “Concerto” se estabelece no cruzamento de sonoridades de palavras, sons e instrumentos musicais. Na paisagem visual e atmosfera de Cabaré surgem e desaparecem personagens aturdidos por questões existenciais, acontecem shows e performances eróticas, dança-se com a plateia, fala-se de sexo e se reivindica o direito ao prazer. É no jogo de sentido e significado entre sons e instrumentos musicais, na condução de personagens-atores, atores-narradores, no tempo presente do encontro com a plateia e no trânsito entre realidade e ficção, que se estabelecem as relações expressivas entre forma e conteúdo e se estrutura a dramaturgia de Concerto para Rameirinhas

Neste trabalho o teatro e a música estão intrinsecamente ligados. Os músicos Ary Giordani e Luis Otávio excutam ao vivo a trilha sonora criada por eles especialmente para o espetáculo. A peça é resultado de um processo de criação colaborativo entre atores, músicos e direção. A CiaSenhas propõe um Concerto Cênico Musical tornado ato político quando convida e conduz a plateia a um flerte coletivo vivenciado no e através do jogo teatral.