Manifesto Traspofágico
Renata Carvalho (SP)
Direção: Luiz Fernando Marques - Lubi
Estreia: 2019
Página atualizada em 03/12/2025
Temporada
Nome do Teatro (Estado)
Datas: de 8 de julho a 27 de agosto
Horário: terça e quarta às 20h
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Endereço: R. Xxx, 104, – Yyyyyy (WZ)
Telefone do teatro: (99) 6543-2100
Datas:
8 de julho a 27 de agosto
Horário:
terça e quarta às 20h
Duração:
60 minutos
Classificação:
14 anos
Endereço:
R. Xxx, 104, – Yyyyyy (WZ)
Telefone do teatro:
(21) 2537-8053
Sinopse
“Hoje eu resolvi me vestir com a minha própria pele. O meu corpo travesti”. Renata “se veste” com seu próprio corpo para narrar a historicidade da sua corporeidade. Renata se alimenta da sua “transcestralidade”. Come-a, digere-a. Uma transpofagia. O Corpo Travesti como um experimento, uma cobaia. Um manifesto de um Corpo Travesti. Letreiro pisca TRAVESTI. TRAVESTI. TRAVESTI.
O espetáculo
Manifesto Transpofágico, concebido e protagonizado por Renata Carvalho, é um espetáculo teatral que integra sua pesquisa continuada iniciada em 2007, passando por “Dentro de mim mora outra” (2012) e “Eu Travesti” até chegar a esta obra. O espetáculo é inspirado no conceito de Manifesto Antropófago (1928), de Oswald de Andrade, ressignificando a ideia de “antropofagia cultural” a partir de uma perspectiva transgênero.
A montagem utiliza estruturas não lineares, mesclando autobiografia, ficção e intervenção política. A encenação incorpora elementos como projeções de vídeo e interações com o público. A cenografia, minimalista, prioriza corpos em movimento, com uso estratégico de luz para criar ambientes que oscilam entre o íntimo e o ritualístico. A trilha sonora, composta por ruídos urbanos e batidas eletrônicas, complementa essa atmosfera de corpos em constante transformação.
Depois de estreiar em março de 2019, no Teatro Décio de Almeida Prado, dentro da programação da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, o espetáculo circulou por festivais nacionais e internacionais, adaptando-se a diferentes contextos sociopolíticos. Sua estrutura modular permite ajustes conforme o local da apresentação, mantendo o núcleo conceitual intacto.
Fotografia de fundo: Guto Muniz
Espelho Luminoso: A escuta como ferramenta política
Depois da censura violenta ao O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu (2016), onde interpretava uma Jesus travesti, Renata Carvalho estreia Manifesto Transpofágico. Nele, quem se apresenta é Renata, que usa a sua fala para estimular que o público fale e se escute.
O solo de 2016, O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, testemunhou e foi vítima da mais recente ascensão fascista no país e faz parte de uma constelação de outras iniciativas cujos ataques ganharam repercussão nacional, a exemplo da exposição Queermuseu e La Bête de Wagner Schwartz. A peça-manifesto se soma a um conjunto de ações políticas lideradas por Renata Carvalho, como o Movimento Nacional de Artistas Trans (MONART) e o manifesto “Representatividade Trans Já”, fortalecendo redes, tensionando estruturas e ampliando os contornos do que entendemos por representação.
Em termos de linguagem, o espetáculo cruza teatro, aula pública e ritual político, o que torna possível pensar a peça como uma palestra-performance, dividida em duas partes:
Na parte um, quem fala é Renata Carvalho, atriz e travesti: há um letreiro que pisca a palavra “TRAVESTI” em vermelho, em caixa alta, enquanto o silêncio inicial do corpo acentua a presença da palavra. O corpo que se mostra se oferece como arquivo. Num jogo entre autobiografia e denúncia, a atriz narra o processo de construção do seu corpo travesti, dividindo sua trajetória em corpos que lhe foram impostos, moldados ou interditados ao longo da vida – o corpo menino, o corpo disciplinado, o corpo gay, o corpo cela, o corpo pornô, o corpo patologizado, o corpo-objeto, o corpo abjeto, o corpo vergonha, o corpo matável etc.
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Na parte dois, quem fala é Renata Carvalho atriz, transpológa e travesti: a artista desce até a plateia e propõe um encontro. Como palestrante, apresenta os conceitos que vem circunscrevendo ao longo de sua trajetória como intelectual. Dentre elas: a ideia de transpofagia, como um processo em que ela devora suas referências travestis, suas experiências, seus traumas e saberes, para então regurgitar, em forma de discurso e arte, uma crítica à cisnormatividade e uma declaração de existência. Como mediadora, apenas ela mesma, com sua presença histórica e política, converte o teatro em ágora. A cada relato, o público é convidado a habitar com a atriz o lugar incômodo entre o que é dito sobre corpos trans e o que esses corpos têm a dizer sobre si mesmos. A audiência também é deliberadamente constrangida diante da exposição da própria plateia, que acontece graças ao espaço de acolhimento construído e alimentado por Renata com precisão, formulando perguntas e respondendo dúvidas também constrangidas com paciência e rigor.
Com direção de Luiz Fernando Marques (Lubi), Manifesto Transpofágico circulou, desde 2019, por festivais nacionais (MITsp, Festival de Teatro de Curitiba, Trema! Festival, FETEAG), temporadas em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, além de cidades do interior. Também integrou a programação de festivais internacionais, como o Festival d’Automne (França), o Zürcher Theater Spektakel (Suíça), o FITEI (Portugal) e o PuSh Festival (Canadá), com sessões em português, legendas em múltiplos idiomas e alcance global. Sua publicação em livro bilíngue (português/inglês) contribui para a difusão crítica da peça e consolida sua função como texto-manifesto.
Laís Machado é pesquisadora e curadora do projeto O teatro e a democracia brasileira.
Vídeos
Teaser do espetáculo
Renata Carvalho entrevistada no programa Fuerza Latina DW
ficha técnica
Dramaturgia e atuação:
Renata Carvalho
Direção:
Luiz Fernando Marques
Iluminação:
Wagner Antônio
Vídeo Arte:
Cecília Lucchesi
Adaptação de luz e operação:
Juliana Augusta
Produção:
Rodrigo Fidelis – Corpo Rastreado
Co-produção:
MITsp e Risco Festival
Difusão:
Corpo a fora
Fotografia de fundo: Guto Muniz
Críticas
Clique nas imagens para acessar as críticas na íntegra.
Estratégias didáticas de um corpo travesti
“Renata Carvalho, em Manifesto Transpofágico, dá um importante passo na própria Transpologia que inaugurou. Ao falar em primeira pessoa, acaba de fazer uma das mais importantes contribuições ao campo de estudos e vivências travesti.”
Renato Gonçalves – 29/10/2019
Texto publicado originalmente na Revista Bravo
Espetáculo questiona tratamento dado a travestis no Brasil
“Trata-se de uma exposição corajosa e honesta, que resgata certa historicidade recente para questionar o tratamento dado a travestis no Brasil. Nos vídeos projetados, somos lembrados das violências extremas e sutis, perpetradas de forma oficial ou não oficial.”
Amilton de Azevedo – 21/03/2019
Folha de São Paulo
Renata Carvalho: a “travaturga” que faz frente ao Brasil reaccionário
“Já teve de fazer um espectáculo vestida com colete à prova de balas e já escapou a uma bomba caseira que atiraram para um palco onde actuava. “Achei que ia morrer aos 35 anos, em cima do palco.” Desde a estreia de O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, em 2016, que a actriz, encenadora e dramaturga Renata Carvalho tem sido um dos alvos do ódio da facção reaccionária do Brasil, de fanáticos religiosos a políticos e juízes.”
Mariana Duarte – 24/10/2020
Público (Portugal)
The shock of the nude: Brazil's stark new form of political protest
“Last year, trans performer Renata Carvalho received death threats and lost bookings after she performed the Brazilian version of Jesus, Queen of Heaven by Edinburgh playwright Jo Clifford. That’s why, in Transpofágico (Transpophagic Manifesto), she stands naked before us as a “travesti”, in a blend of autobiography and polemics about a life spent under constant scrutiny.”
Mark Fisher – 29/03/2019
The Guardian (Inglaterra)
Um Manifesto Transpofágico | A cena-vida de Renata Carvalho (e de muitas outras)
“É talvez sobre este ponto trazido em texto à cena que me interessa re-pensar, refletir, como artista pesquisadora mas também enquanto travesti. É muito importante nos vermos no palco, na história, na pesquisa. É muito potente ver como as outras pessoas cis na plateia nos enxergam, ouvem, observam, a partir do momento que veem, enxergam e ouvem a Renata. Sinto que é como se em um momento eu pudesse observar quem eu sou e quem é que me observa, me senti em um espaço do “entre”. “
Maria Lucas – 15/04/2024
Questão de Crítica
Manifesto Transpofágico em Paris e o Festival Everybody 2023
“No trecho de um dos vídeos (um dos documentos) do espetáculo, uma frase ficou ecoando na minha cabeça nessa temporada parisiense, talvez porque sintetize a extensão e profundidade da violência contra os corpos trans: “cortei um braço… é pouco; corte o outro… é pouco, corte o pescoço”. “
Ivana Moura – 27/02/2023
Satisfeita Yolanda
O livro
Escrita pela atriz, diretora e dramaturga Renata Carvalho, a obra narra a história do corpo travesti em um monólogo. O livro, publicado pela Editora Monstra (iniciativa editorial da ONG Casa 1), conta com uma edição bilíngue (inglês e português) e ainda duas brochuras extras, com o texto em espanhol e francês.
“O texto é uma colagem da minha pesquisa, os livros da minha travesteca. É uma forma de registrar como memória para que isso vire história, para que as pessoas saibam que em 2022 tinha uma travesti fazendo um espetáculo, que esse espetáculo tinha uma pesquisa aprofundada, uma transpofagia”, destaca Renata.
O livro acompanha texto introdutório de Jaqueline Gomes de Jesus e narra o nascimento dos corpos travestis, mostrando a construção social e a criminalização que os permeiam, do imaginário à concretude.
Renata Carvalho
Renata Carvalho – atriz, diretora, dramaturga e transpóloga. Graduada em Ciências Sociais. Fundadora do Monart (Movimento Nacional de Artistas Trans), do “Manifesto Representatividade Trans” (que visa a inclusão de corpos travestis/trans nos espaços de criação de arte e pede uma pausa na prática do Trans Fake – artistas cisgêneros que interpretam personagens trans/travesti).
Como transpóloga (uma antropóloga trans), estuda o corpo travesti/trans desde 2007, quando torna-se agente de prevenção voluntária em ISTs, HIV/AIDS, tuberculose e hepatites pela secretária municipal de saúde de Santos, trabalhando especificamente com travestis e transexuais na prostituição, mesmo ano do seu percebimento travesti.
Esta transpologia aponta a construção social, midiática, criminal, hiper sexualizante, patológica,religiosa e moral que permeiam corpos trans/travestis, onde a arte, e consequentemente, os artistas também foram/são responsáveis na construção desse imagético do senso comum.
Renata Carvalho
Esta é a página de um espetáculo selecionado no âmbito do projeto O teatro e a democracia brasileira. As informações nela contidas são de responsabilidade de Renata Carvalho, excetuando-se o texto do curador do projeto, sendo esse de responsabilidade da Foco in Cena, proponente deste projeto. Caso encontre um erro ou divergência de dados, favor entrar em contato através do e-mail contato@focoincena.com.br
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