Trilhas da Cena

Banner preto com texto em branco e vermelho "O Teatro e a Democracia Brasileira Parte Um" e logotipos da Funarte, do Ministério da Cultura e do Governo Federal do Brasil, além de informações sobre o programa e o financiamento.
Banner promovendo um projeto de teatro com logotipos da Funarte, do Ministério da Cultura e do Governo Federal do Brasil. O texto diz: "O Teatro e a Democracia Brasileira Parte Um" e menciona o Programa Funarte Retomada 2023 - Teatro.

OCUPAÇÃO NOITE DAS ESTRELAS

Dramaturgia: Wallace Lino

Direção: Wallace Lino e Paulo Victor Lino

Realização: Entidade Maré (RJ)

Estreia: 2023

Página atualizada em 11/11/2023

Foto: José Bismarck

Temporada 2025

Rio de Janeiro (RJ)

Datas: 09, 16, 23 e 30 de novembro (domingos)
Concentração: 15h30 | Saída: 16h30
Maré – ponto de encontro: Ponto de mototaxi da R. Teixeira Ribeiro – Passarela 09 da Av. Brasil
 
Este projeto é realizado com recursos da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura

Datas:

8 de julho a 27 de agosto

Horário:

terça e quarta às 20h

Duração:

60 minutos

Classificação:

14 anos

Endereço:

R. Xxx, 104, – Yyyyyy (WZ)

Ingressos:
R$80 – inteira | R$ 40 – meia
 
 

Telefone do teatro:

(21) 2537-8053

Clique aqui e compre seu ingresso antecipadamente.
 

A ocupação

A Noite das Estrelas é uma ocupação artística de valorização da memória LGBTQIAPN+ realizada na Maré, Rio de Janeiro. Suas raízes estão em um ato de resistência criativa que aconteceu nas décadas de 1980.

 

Tudo começou quando Ney, uma bixa preta que organizava a festa junina do Rubens Vaz, atendeu o desejo de suas amigas travestis que o ajudavam a confeccionar as roupas da quadrilha: ceder um dia da festa para elas realizarem um show. Aquele show foi um grande sucesso. Menga, uma bixa que era pai de santo e ligado ao carnaval, viu aquele movimento e batizou-o como “Noite das Estrelas”, firmando um movimento que durou mais de 20 anos pelas favelas da Maré, por outras comunidades e lugares da cena LGBTQIAPN+ da cidade do Rio de Janeiro. Um tipo de movimento que tinha a rua firmada como cena dos palcos, com a performance dos corpos gravada na celebração que arrastava multidões.

Foto: Thanis Parajara
Desde 2020, quando a Entidade Maré foi criada, o coletivo retoma essa história e a reescreve no presente. A ocupação contemporânea, que estreiou em junho de 2023 em Nova Holanda, é um espetáculo multifacetado que se desdobra como apresentação artística, filme, exposição de fotos e experiência imersiva. As performances são protagonizadas por artistas negros e LGBTQIAPN+ da Maré, celebrando vidas e trabalhos da comunidade local.

Celebração e afirmação de um espaço democrático conquistado

Foto: Retina do Teu Olhar

Logo após o início do período de redemocratização nos anos 80 do século XX, o movimento de organizações não governamentais no Rio de Janeiro gerou uma série de ações associativas, fortalecendo movimentos étnico raciais e políticos que incluíam cultura e arte como aspectos fundamentais para um possível processo de transição democrática e transformação social.

 

O surgimento dessas associações e organizações no período resulta na formação de uma série de grupos artísticos de caráter afirmativo que passam a propor uma ideia de centro para grupos tidos como periféricos.

 

Seriam esses grupos e sua forma associativa uma continuação da experiência do Teatro Experimental do Negro (TEN) ou ainda, talvez, por pensarem na construção de dramaturgias a partir de suas próprias realidades, também uma continuação do Teatro Profissional do Negro (TEPRON).

 

Vistos, inicialmente, apenas como projetos assistencialistas, esses grupos têm grande dificuldade de se tornar visíveis dentro do movimento do teatro carioca, sendo suas dramaturgias e formas de atuação muitas vezes deslegitimadas pelos grupos de presença hegemônica na cena. No entanto, essa não era uma visão única. Assim, alguns artistas independentes da cidade passam a dialogar com esses grupos e a desenvolver projetos juntos, viabilizando novas possibilidades para esses trabalhos. 

Como resultado do desenvolvimento desse processo de luta, nos anos 2000, surgem grupos como a Cia Étnica, Favela Força, Bonobando e a Companhia Marginal, entre outros. São grupos que, a partir da sua própria realidade territorial, pensam uma dramaturgia própria, que une o caráter experimental com uma vivência calcada nas suas experiências de vida, que podem trazer novos paradigmas para a cena. São grupos que pensam e realizam uma dramaturgia distinta daquela predominante nos palcos do teatro contemporâneo carioca da época.

 

Entendo que um fluxo desse movimento é o lugar onde a Entidade Maré propõe o espetáculo-happening A noite das estrelas, uma celebração única LGBTQIAPN+, realizada no Complexo de favelas da Maré, particularmente na Nova Holanda, para celebrar a vida e a obra de artistas que se destacaram dentro da comunidade nos anos 80 e 90 do século XX.

Foto: Patrick Marinho

Segundo o diretor Wallace Lino, em declaração ao site Voz das Comunidades, o objetivo principal da ocupação é trazer a cultura LGBTQIAP+ preta e periférica para o centro do debate sobre arte e cultura da cidade do Rio de Janeiro.

 

 “O Brasil é um que celebra as brutalidades da população LGBTQIAP+ preta favelada diariamente. Esta ocupação é um sonho coletivo de celebrar nossos afetos, culturas e existência através das linguagens artísticas. Além disso, contribuir para o acesso material e sensível às programações de artes de públicos diversos em específico população da Maré e com o debate sobre a presença de corpos e vivências LGBTQIAP+ pretos e periféricos nas artes pautadas na diversidade e inclusão”, explica. [1]

 

Na mesma reportagem, Paulo Victor Lino, diretor da ocupação, explica como nasce a Noite das Estrelas e seu principal pleito nos espaços públicos, pelas ruas das favelas da Maré:

 

“Os shows nascem na festa junina de Nei, que quis que suas amigas o ajudassem a confeccionar as roupas da quadrilha, tivessem um dia delas no meio da festa. Menga, ao ver o acontecimento, deu o nome ao evento de Noite das Estrelas a esse movimento cultural que, por mais de 20 anos, arrastou multidões para ver as performances das artistas LGBTQIAP+, que traziam em seus gestos, vozes, corpos e movimentos a subversão da ideia e realidade da violência”, explica o diretor.

 

Viver essa experiência única, experimentar a relação da performance com o território de onde ela é original, é entender dentro da realidade do processo teatral do Rio de Janeiro uma oportunidade especial.

Desde o ponto de encontro no início da performance, já se percebe uma relação de trajetória que vai se dar naquela localidade. São aqueles artistas, moradores daquele território que vão guiar os espectadores para compartilhar a experiência. São aqueles corpos rejeitados por um discurso hegemônico que vão mostrar a diversidade e o entendimento de se construir a arte em seu próprio espaço, com as diversas faces da contemporaneidade. 

 

É na encruzilhada e nas suas possibilidades que nos deparamos com uma construção que se dá partir da primeira deriva. Nessa encruzilhada, a dança, a religiosidade, o encontro da ancestralidade com a contemporaneidade se afirmam.

 

A partir daí, os artistas propõem ao público um caminho às escuras. Vendados, percorrem os becos, passeiam por sonoridades, são guiados por um caminho desconhecido, até chegar ao beco revelador, arquitetonicamente único, onde se pode perceber as arquiteturas inusitadas da favela, arquitetura construída por arquitetos sem diplomas, arquitetos da possibilidade, arquitetos de um espaço democrático conquistado. Percorre-se a memória desses artistas LGBTQIA+ a partir da realidade do seu território.

Foto: AF Rodrigues
Foto: Juliana Bizzo

A parada que se dá após o encontro no beco e o relato da atriz, que estabelece sua condição de mulher lésbica já no espaço aberto, desenvolve uma relação das performances dos artistas com os espaços da comunidade. Essa parada propõe um caminho dançante e pulsante ao público. É uma proposta de interação com os espaços da comunidade.

É fascinante ver como esse processo inclui moradores de todas as idades para celebrar a vida e a obra desses artistas trans e travestis que, naquele período, mobilizaram a comunidade de uma forma radicalmente inclusiva. O que se percebe é que A noite das estrelas é um espaço de entretenimento e união da comunidade.

 

É interessante observar que a ideia se dá como um pensamento de arte plural. A noite das estrelas se organiza não só como um espetáculo, mas também como uma ocupação artística, envolvendo diversos espaços da comunidade. Além de ser também um filme uma exposição, é sobretudo uma festa celebrativa da vida e obra das artistas que a realizaram.

 

[1] Disponível em https://vozdascomunidades.com.br/destaques/noite-das-estrelas-ocupacao-artistica-homenageia-historia-do-movimento-lgbt-na-mare/

 

Paulo Mattos é pesquisador e curador do projeto O teatro e a democracia brasileira.

Vídeos

Noite das Estrelas (Clipe)

Entrevista para o programa Globo Comunidade - Junho de 2023

o projeto recebeu

Moção de Louvor e Reconhecimento da Câmara Municipal do Rio de Janeiro

Moção de Louvor e Aplausos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

Indicação ao 34º Prêmio Shell de Teatro (2024) na categoria “Energia que vem da gente

Prêmio de Cria Pra Cria da Câmara dos Vereadores com Mônica Benício

Prêmio Rubens Barbo do Neap Fest

Prêmio de Cria Pra Cria Cultura e Favela 2023

 

Fotografia de fundo: Thaís Valêncio

Clipping

Clique nas imagens para acessar as matérias na íntegra.

Circulação e atividades culturais

O projeto promoveu, além das apresentações do espetáculo, a exibição de filmes e a exposição de fotos em diversos espaços:

Exibição de vídeos no FRINGE, na Escócia.

• Participação no Paraty em FOCO, em parceria com a Escola de Fotografia Popular do Imagens do Povo.
• Presença no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), em colaboração com o MIIM.
• Exibição do filme “Noite das Estrelas” na Conferência de Gênero da Virginia Tech, nos Estados Unidos.

 

O projeto também participou de diversos eventos acadêmicos e culturais:

• Publicação de artigos na Revista Amarello.
• Publicação de artigo no livro “Terra: Antologia Afro-Indígena”, da editora Piseagrama.
• Realização de palestra na Primeira Semana da Diversidade, promovida pela Prefeitura de Magé.
• Participação em “Afropresença: Corporeidades da Cena” na UFF.
• Exibição do filme “Noite das Estrelas” na UNB.
• Participação em “Afroperformatividade: Corpo, Cidade e Poéticas das Territorialidades”.

• Realização de mesa-redonda “Narrativas Infinitas” no Festival Internacional de Cinema Zózimo Bulbul.
• Condução de oficina de produção para pessoas LGBTI+.

 

Fotografia de fundo: Ratão Diniz

Ficha técnica

Direção: Paulo Victor Lino e Wallace Lino

 

Dramaturgia: Wallace Lino

 

Elenco: Dominick di Calafrio, Jaqueline Andrade, Livia Laso, Marcela Soares, Milu Almeida e Preta Queenb Rull

 

Ballet: Arthur Gabriel, Codazzi Idd, Lua Brainer e Luiz Otavio

 

Convidadas: Caten Catende, Joa Assumpção, Kastellany, Khatita Gringa, Leticia Vieira, Lorrany Sabatella, Marcela Soares, Monique Raison, Nádia Passiva, Natalhão, Nyara Wassa e Soraya Maria

 

Bateria do Gato de Bonsucesso

 

Direção musical: Rodrigo Maré

 

Operação de som: Nizaj

 

Direção de movimento: Camila Rocha

 

Assistente de movimento: Jess Louzada

 

Direção de arte: Raphael Elias e Mauro Ferreira

 

Direção de luz: Tainã Miranda

 

Operação de luz: Lina Kaplan

 

Eletricista: Fabio

 

Visagismo: Gustavo Ciupryk

 

Design, fotografia e vídeo: Matheus Affonso

 

Mídias sociais: João Zabeti

 

Documentação em vídeo: Lais Dantas e Matheus Affonso

 

Produção: Bem Medeiros e Wellington de Oliveira

 

Assistência de produção: Bruno Santiago e Larissa Fernandes

 

Parceria: Redes da Maré, Lona da Maré Itinerante e  Lona Cultural Municipal Herbert Vianna

 

Apoio: Cia Marginal, Conexão G, Centro de Cidadania LGBTI+, Gato de Bonsucesso e Artefatos Luminosos

 

Uma Produção: Entidade Maré, WDO Produções e Suma Filmes

entidade maré

Coletivo fundado em 2020 com a missão de apresentar a memória cultural LGBTQIAPN+ no território da Maré e na cidade do Rio de Janeiro. Composto por artistas negros e LGBTQIAPN+ do território, a Entidade Maré continua desenvolvendo novos projetos de ocupação, reflexão e circulação cultural.

 

Criadores:

Wallace Lino — Diretor geral, dramaturgo, diretor artístico, ator e educador

Paulo Victor Lino — Diretor geral e diretor artístico

Esta é a página de um espetáculo selecionado no âmbito do projeto O teatro e a democracia brasileira. As informações nela contidas são de responsabilidade de Wallace Lino, excetuando-se o texto do curador do projeto, sendo esse de responsabilidade da Foco in Cena, proponente deste projeto. Caso encontre um erro ou divergência de dados, favor entrar em contato através do e-mail contato@focoincena.com.br

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